08/11/2008 18:22

Fausto Oliveira

Por que caminhos quer seguir a juventude sul-americana de hoje? O que os jovens desejam para suas vidas, agora e no futuro? Como eles vêem as possibilidades de atingir os objetivos que se colocam? Questões de fundo como estas estiveram colocadas no encontro internacional do projeto Derechos Direitos, no último fim de semana em Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro. O encontro reuniu cerca de 200 jovens dos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) mais o Chile. Em quatro dias, uma série de debates, painéis e oficinas de uma marcante diversidade provaram que a tão propalada apatia da juventude dos dias de hoje não passa de um mito.

Para chegar ao encontro internacional, os jovens passaram por um intenso processo de diálogo em seus países. Este diálogo travado com as organizações responsáveis pelo projeto nos âmbitos nacionais envolveu uma capacitação em direitos. E o que vem a ser isso? Trata-se de mostrar a cidadãos e cidadãs que ainda vão desenvolver muito seus caminhos pela vida os modos de exigir de suas sociedades aquilo que lhes é de direito. Diferentes metodologias são usadas para isso. Sempre, contudo, eles são levados a pensar todo o processo de uma ação de exigibilidade. Ações de exigibilidade são aquelas que, partindo de um caso concreto de violação de um direito, demandam organização e ação social junto aos poderes públicos e demais atores sociais para encontrar meios realistas de garantir o direito em questão.

É claro que cabem casos altamente diferentes nesta definição. E é o que acontece. Há ações de exigibilidade por espaços públicos de lazer em comunidades locais, há casos de luta pelo direito a se exprimir com liberdade, há lutas por serviços básicos de educação e saúde. Enfim, há uma sorte ampla de iniciativas postas em práticas pelos jovens dos países participantes. Algumas delas resultam em correção e atendimento dos direitos, outras não. Em todas elas, contudo, o processo de aprendizado de cidadania é pleno. Eles são postos em face de um contexto que exige deles uma inserção cidadã. Passar por isto na juventude, como os próprios jovens relataram no encontro em Cabo Frio, é fundamental para o autoconhecimento e o conhecimento de mundo que agora eles levarão adiante. Não é à toa que o slogan do projeto é “Por uma região de novos cidadãos”.

Diferente da imagem preconcebida de uma juventude desinteressada em assuntos que não sejam da esfera individual, o que se viu em Cabo Frio foi o contrário. Solidariedade, irmandade, apoio mútuo, interesse mútuo e cooperação deram a tônica das atividades do encontro. O respeito às diferenças foi consagrado, seja na tolerância às opções individuais de cada um, seja em oportunidades como a exposição de elementos da cultura de cada país, quando todos puderam conhecer mais sobre o que fazem seus irmão/hermanos e vizinhos. Do Brasil, ouviu-se maracatu, frevo e rap. Da Argentina, a excelente culinária foi o traço cultural escolhido com orgulho. Do Paraguai, o belíssimo artesanato Guarani apareceu em seu esplendor. Do Uruguai, as belezas naturais dos pampas. E do Chile, direto das periferias de Santiago, uma fortíssima cena hip hop deixou todos de queixo caído com a dança break.

Todo este processo gratifica muito as organizações que vêm promovendo o Projeto Derechos Direitos: a Fase pelo Brasil, Crear e Fondación SES pela Argentina, El Abrojo pelo Uruguai, Achnu pelo Chile e Casa de la Juventud pelo Paraguai. Além delas, a organização italiana MLAL (Movimento Laico para a América Latina) aportou todo seu interesse na construção de um laço solidário e progressista para a juventude da nossa região. Os e as jovens agradecem muito.