25/10/2008 11:33

Dois novos livros da Fase apresentam estudos sobre graves e atuais problemas: a monocultura da soja e o modelo de produção de agrocombustíveis. “Lenha Nova para a Velha Fornalha – a febre dos agrocombustíveis” e “A Agricultura Familiar da Soja na Região Sul e o Monocultivo no Maranhão – duas faces do cultivo de soja no Brasil” são fruto de pesquisas feitas pelo Projeto Brasil Sustentável e Alternativas à Globalização da Fase.

Em “Lenha Nova para a Velha Fornalha”, o pesquisador Sérgio Schlesinger aborda a expansão de três grandes monocultivos no território nacional. São eles a cana de açúcar, a soja e as florestas artificiais (notadamente o eucalipto). A intenção do estudo é perceber os impactos sociais, ambientais e econômicos desta opção sobre o uso da terra. Opção que se revela cada vez mais radical. Basta notar que, como o autor explica na introdução do livro, apenas estes três monocultivos são responsáveis por ocupar no Brasil o equivalente à área da Itália e da Holanda juntas (33 milhões de hectares).

A intenção do governo em estimular este modelo é estabelecer a economia dos agrocombustíveis. Apontados como energia limpa, sem comparados ao petróleo, os combustíveis de origem vegetal são na verdade muito problemáticos. Primeiro porque, ocupando tamanha área de plantio, comprometem a produção de alimentos e aumentam o preço da comida. Além disso, os monocultivos significam menos área de florestas preservadas, e portanto menos habitat para a biodiversidade e as populações tradicionais. Mas cabe também perguntar: se a idéia é reduzir os impactos do uso de petróleo, por que implementar um modelo alternativo para manter os padrões de consumo de combustível como estão?

Já em “A Agricultura Familiar da Soja na Região Sul e o Monocultivo no Maranhão”, os pesquisadores Sérgio Schlesinger, Sidemar Presotto Nunes e Marcelo Sampaio Carneiro se dividem numa tarefa comparativa de grande importância. Nem só de grandes monoculturas se faz o cultivo de soja no Brasil. No sul, a soja é cultivada em pequenas e médias propriedades, muitas vezes sob regime de rotação com o trigo e o milho, o que garante as condições do solo e algo da diversidade produtiva. No Maranhão, o regime de monocultivos agressivos e injustos graceja.

O livro reúne estudos de caso feitos nos municípios de Planalto, no Paraná, e Três de Maio, no Rio Grande do Sul, em sua primeira parte. Na segunda parte, são avaliados os impactos do monocultivo no Maranhão. Ambas as pesquisas foram feitas com apoios importantes, como as organizações Fetraf Brasil e Sul, Deser, Universidade Federal do Maranhão, Comissão Pastoral da Terra, Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e o Fórum de Defesa do Baixo Parnaíba. Com este livro, a Fase conclui um ciclo de estudos publicados sobre a expansão da soja no Brasil. As publicações anteriores estudaram a monocultura em Belterra e Santarém (Pará), Campos Lindos (Tocantins), Sorriso e Baixo Araguaia (Mato Grosso).