12/08/2008 13:39
Fausto Oliveira
O papel da Amazônia no equilíbrio ambiental do Brasil e do mundo está mais do que claro. Já não é possível negar que os danos e prejuízos recentes à floresta alteram o regime de chuvas em outras regiões; comprometem o volume dos rios; concorrem para extinção de uma biodiversidade que está entre as maiores do planeta; desertificam o solo; estão acabando com as condições de vida das populações amazônicas. A raiz destes problemas está nas atividades produtivas, legais e ilegais, que hoje trazem de volta o antigo projeto de “ocupar a Amazônia”. Ou seja, é o modelo de desenvolvimento escolhido que vem assolando a Amazônia. Para discutir formas de sair deste modelo e salvar o patrimônio socioambiental que é, em sua maior parte, responsabilidade do Brasil perante o mundo, a Fase está organizando o seminário “Amazônia: velhos dilemas, novos desafios”, com as parceiras Fundação Heinrich Böell e Fundação Ford.
O formato do seminário, que se realizará por três dias em Ananindeua, no Pará, propicia uma participação ativa. Os convidados, sejam de organizações sociais, instâncias governamentais, universidades ou movimentos sociais, vão tentar apontar suas próprias reflexões acerca das possibilidades futuras para a Amazônia. Não se trata mais de diagnosticar problemas e seus efeitos já bem conhecidos. O que todos agora devem fazer em um grande esforço conjunto é pensar alternativas.
Por isso, a programação do seminário envolverá debates acerca das disputas territoriais que ocorrem na Amazônia; clima, biodiversidade e soberania alimentar; infra-estrutura, mineração e industrialização; a sustentabilidade das cidades amazônicas; as estratégias dos movimentos sociais e organizações. A multiplicidade dos pontos de vista e a união de esforços parecem ser o objetivo do seminário.
Num contexto maior, trata-se de perguntar velhas perguntas para chegar a novas respostas, o que faz eco com o mote do evento (velhos dilemas, novos desafios). Quais as tendências futuras de apropriação das terras amazônicas frente às novas investidas do capital e as iniciativas governamentais, e como ficam as populações tradicionais diante disso? Como a importância da Amazônia para o clima mundial contribui para fortalecer um modelo alternativo de desenvolvimento sustentável? Como regular a atividade de empresas cujo impacto socioambiental é fortíssimo (mineração, petróleo, metalurgia, infra-estrutura etc.)? Como integrar as cidades amazônicas em um novo projeto alternativo para a região? E, afinal, como construir o projeto alternativo que permita manter para o futuro a Amazônia?
A preocupação é mundial. A floresta, em sua maior parte, fica no Brasil. Há que veja um conflito de interesses, em que os países desenvolvidos teriam interesse pela preservação da floresta para que o Brasil ficasse atrás na corrida das nações. Este é um debate polêmico, mas menos fundamental do que a necessidade de garantir a floresta viva e o território das populações tradicionais. Se o desenvolvimento do Brasil passa pela Amazônia, é necessário questionar que desenvolvimento e para quem. Grandes corporações, mesmo que nacionais, podem prejudicar tanto o Brasil como o mundo por suas atividades predatórias. Num caso como esse, adianta discutir de quem é a Amazônia? Um desenvolvimento sustentável, baseado no respeito aos recursos naturais e sem as pressões econômicas que o ecossistema já não agüenta mais, é a única solução. Seja para a Amazônia do Brasil, seja para a Amazônia do mundo.