06/09/2008 17:16

Fausto Oliveira

Em 1983, quando o Brasil ainda era governado pelo último general da ditadura militar, fazia dez anos a morte de Josué de Castro. Visto como inimigo pelo governo autoritário, já não residia no Brasil na época de sua morte, ocorrida na França durante o auge dos anos de chumbo. Para marcar a passagem dos dez anos da perda do pensador, e afirmar sua importância como um elemento da redemocratização do país, um grupo de estudiosos e organizações promoveu a Semana Josué de Castro na PUC de São Paulo. Dois anos mais tarde, por haver participado intensamente deste evento, a Fase publicou um livro para trazer de volta o debate acerca da fome e suas causas. Tratava-se de Raízes da Fome, produzido coletivamente sob organização da socióloga Maria Cecília de Souza Minayo.

Editar o livro foi uma forma de reforçar a presença de Josué de Castro no meio intelectual e entre os movimentos e organizações sociais brasileiros naquele momento histórico. Era um gesto político que não podia deixar de ser feito pela Fase, no sentido de dar seguimento à semana coordenada pelo professor Ricardo Abramovay na PUC-SP, mas também como forma de reintegrar o debate sobre direito à alimentação no Brasil pós-ditadura que já se anunciava.

Como o panorama social, político e econômico de meados dos anos 80 já era bastante diferente daquele em que Josué de Castro desenvolveu as idéias apresentadas em Geografia da Fome e outros livros, um grupo consistente de pensadores entregou-se à tarefa de atualizar o debate sobre alimentação no Brasil e no mundo. O resultado foi que a publicação da Fase editada em 1985 trazia contribuições de peso em temas como: a fome e a questão da terra; os efeitos da crise econômica de então sobre a alimentação; as relações entre produção de alimentos e estrutura fundiária, entre outras discussões.

As palavras de Anna Maria de Castro, filha do pensador e também professora universitária que deu perenidade à luta do pai, no prefácio de Raízes da Fome, resumem um pouco do que significava naquele momento trazer de volta as idéias de Josué. “Foi muito o que conseguimos naquele momento – 1983. Mas, acreditamos que este país ainda tem uma dívida muito grande com Josué de Castro. Sua obra precisa ser conhecida das novas gerações, aqueles que deverão construir um Brasil melhor sem esquecer daqueles que, por denunciar a pobreza, a miséria, a fome, foram cassados e banidos deste país, morrendo no exterior como Josué de Castro”.