11/04/2008 14:29

Uma das mais importantes redes sociais de organizações e movimentos sociais em defesa de um novo modelo de desenvolvimento, a Rede Deserto Verde definiu em um encontro realizado no início do mês sua estratégia de ação para o ano de 2008. Indígenas, quilombolas, camponeses, sem terra e representantes de organizações como a Fase Espírito Santo mais uma vez declararam sua intenção de denunciar a apropriação privada de grande parte do território capixaba (e, mais recentemente, de outros estados brasileiros) pelas corporações transnacionais de produção de celulose.

Na Carta de São Mateus (referência à cidade do norte do ES onde ocorreu o encontro), as entidades e movimentos participantes da rede denunciam as metamorfoses da indústria de celulose. Depois de abocanhar ilegalmente larguíssimas faixas de território para impor ao Brasil a nociva monocultura de eucalipto, as empresas agora introduzem modificações tecnológicas igualmente danosas. Exemplo disso são as plantas transgênicas de eucalipto e os terríveis defensivos à base de glifosato que elas demandam. A contaminação do solo nacional com este tipo de veneno já está acontecendo, apesar da propaganda corporativa dizer, mentirosamente, que transgênicos não requerem agrotóxicos.

Constatado que a sociedade brasileira é vítima deste modelo de desenvolvimento, e que ele recebe apoio oficial do maior banco público de financiamento, a Rede Deserto Verde reafirma seu compromisso de permanecer como voz crítica que propõe alternativas. Leia abaixo o texto da Carta de São Mateus.

Carta de São Mateus

Reunida no CEFORMA, nos dias 28/02 a 02/03/2008, em encontro estadual, com Camponeses/as, Sem Terra, Indígenas, Quilombolas e técnicos e profissionais de diversas áreas do conhecimento do ES, e colegas da BA e RJ, a Rede Deserto Verde vem a público declarar seu repúdio à expansão das monoculturas em larga escala do eucalipto e da cana de açúcar em nossos estados, financiada pelo BNDES, pelo governo Lula e por seus sócios da poluição, Paulo Hartung, Sérgio Cabral e Jacques Wagner.

Depois de devastar os territórios indígenas Tupinikim e Guarani e quilombolas, o insustentável modelo agrícola e agrário busca se expandir sobre a agricultura camponesa, disputando as áreas que deveriam ser destinadas à Reforma Agrária, ameaçando a produção de alimentos, os recursos hídricos, na Mata Atlântica, no cerrado, nos campos sulinos, na caatinga e na Amazônia.

O deserto verde também se expande tecnologicamente, nos agrotóxicos de última geração, nas árvores geneticamente modificadas, no mercado de carbono, no etanol de cana de açúcar e de celulose; controlando os centros tecnológicos e disputando os recursos públicos da pesquisa e da universidade brasileira.

As fábricas fecham no Norte, transferindo a poluição para o Sul.

Conclamamos a sociedade civil brasileira, suas redes e fóruns de resistência, para enfrentarmos a expansão do deserto verde, para consolidarmos a vitória indígena Tupinikim e Guarani, para avançarmos na reconquista dos territórios quilombolas, na Reforma Agrária e Agricultura Camponesa; porque insistimos na possibilidade de outra sociedade. Na contra-cultura do eucalipto, vamos somar forças na defesa da autonomia e segurança alimentar, da agroecologia e da sócio-biodiversidade democrática, como os valores e práticas de um outro mundo já em construção.

Rede Deserto Verde