21/09/2007 18:07
Fausto Oliveira
Lançar um olhar sobre as cidades que contemple as carências, necessidades e direitos específicos das mulheres no espaço urbano ainda é uma tarefa por fazer no Brasil. Mas várias organizações e movimentos sociais estão lidando com a questão. No dia 26 deste mês, na cidade de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, a FASE Rio de Janeiro vai promover a oficina “Protagonismo das Mulheres e a Cidade”, para discutir aspectos da vida feminina num espaço urbano marcado por intensas injustiças sociais que se refletem em ausências e carências políticas nas cidades que o compõem.
Há certos aspectos da problemática urbana que dizem respeito às mulheres, especificamente. São desigualdades reais que prejudicam um grande número de mulheres, quase sempre as mais pobres e desatendidas em seus direitos fundamentais. E há várias formas de travar essa discussão. Por exemplo: nas favelas do Rio de Janeiro, centenas de mães vivem tragédias familiares com a perda de filhos inocentes, muitas vezes crianças de menos de cinco anos, por causa das ações policiais.
A oficina promovida pela FASE, entretanto, quer alargar o horizonte da luta feminina nas cidades. “Temos que construir um objeto de luta para mostrar o quanto é desigual o acesso das mulheres ao direito à cidade no Brasil”, diz a educadora Tatiana Dahmer, uma das palestrantes no evento do dia 26. De acordo com Rossana Brandão, que também é parte da FASE Rio, “é mais fácil distinguir as desigualdades nas cidades olhando pela ótica da violência, da moradia etc. Mas olhando pela perspectiva de gênero, essas desigualdades gerais são muito fortes no ambiente doméstico, onde a mulher exerce papéis de reprodução da vida. O impacto dessas desigualdades volta para o espaço público”.
Exemplo claro disso é trazido por Tatiana. Ela conecta um dado trágico da realidade da Baixada Fluminense, que em princípio atinge a todos, com a realidade das mulheres. E a cena real se torna mais cruel para elas. “As políticas de saneamento que deveriam ser feitas na Baixada Fluminense têm impacto sobre a saúde das crianças. Lá, 60% das internações de crianças são por conta de diarréia, e ainda há crianças que morrem por isso. E quem é que falta ao trabalho no dia seguinte para levar os filhos ao posto de saúde às 4 horas da manhã? É a mulher”, diz ela.
Mesmo assim, é fato que certos melhoramentos básicos da estrutura urbana, com instalação de equipamentos que já deveriam estar universalizados, teria impacto positivo sobre a vida das mulheres. A iluminação pública, por exemplo, sempre será uma forma de ajudar a circulação segura das mulheres pela cidade. “Os próprios equipamentos de lazer nas comunidades são sempre um campo de futebol ou uma praça para crianças. Não se ouve o que as mulheres das comunidades gostariam de ter como opção de lazer, isso nem é discutido”, afirma Tatiana. Este olhar da mulher sobre as cidades, sobre o espaço urbano onde vivem, é exatamente o que a oficina em Nova Iguaçu quer produzir. Sem ele, não nascerão as políticas públicas que garantam a elas perspectivas do direito à cidade que lhe são peculiares.