09/02/2007 11:41
Fausto Oliveira
Qual será a cara da juventude dos países sul-americanos nos dias de hoje? Quais os seus anseios, sonhos, projetos de vida? E sua inserção na sociedade complexa e excludente dos tempos atuais? Questões como essas mobilizam o projeto Juventude, Democracia e Direitos Humanos, que integra grupos de jovens brasileiros, argentinos, chilenos e uruguaios em um trabalho de investigação e debate sobre as políticas para juventude em seus países. No Brasil, a FASE participa organizando grupos de jovens do Rio de Janeiro e Pernambuco em oficinas sobre sua realidade e seus direitos, como a que ocorreu em janeiro na Baixada Fluminense.
A idéia é reunir grupos de jovens da região para que eles se tornem agentes de sua própria cidadania por meio da capacidade de exigir seus direitos e políticas públicas para realizá-los. Portanto, não se trata de uma visão da juventude meramente como etapa prévia à entrada no mercado de trabalho. Os grupos participantes desta oficina na Baixada Fluminense, 25 ao todo, corresponderam a esta visão. Foram estimulados a falar de suas necessidades em geral. “O que me chamou muito a atenção é que apareceu como preocupação fundamental a violência, o que está em todo o Brasil, mas também educação e saneamento. Isso nos fez pensar que o jovem não está olhando para si somente como jovem, e sim como jovem dentro de sua comunidade”, afirma Maria Elena Rodriguez, assessora da FASE responsável pelo projeto.
Maria Elena conta que dentre estes 25 grupos havia uma diversidade interessante: grupos produtores de cultura, de jovens homossexuais, grêmios estudantis de vários colégios, jovens trabalhadores. Aquele foi o primeiro encontro intensivo de reconhecimento e capacitação. Agora, cada grupo vai elaborar um plano de trabalho sobre como exigir certo direito que atenda a certa necessidade que o próprio grupo apresentará. “Nós vamos fazer um acompanhamento de cinco meses e quando isso estiver terminado vamos ter um segundo encontro para avaliar o que significou esse processo de exigir direitos”, diz a assessora da FASE.
Faz parte deste processo a discussão sobre os espaços abertos para os jovens na definição das políticas que os afetam. Um exemplo é a atual diretriz do governo federal, que em dezembro estabeleceu o Plano Nacional de Juventude. O objetivo deste plano é forçar municípios a fazer, até o fim deste ano, seus próprios planos municipais de políticas para a juventude. Antes disso, o projeto coordenado pela FASE vai propor uma grande mesa de diálogo com diversas organizações que lidam com público jovem. Este espaço de diálogo será uma preparação para que os jovens interfiram nas discussões sobre os planos municipais de juventude. Neste momento, eles serão capazes de dialogar com o poder público no sentido de afirmar que políticas eles precisam e quais não lhe interessam.
Por fim, os jovens brasileiros vão se encontrar com os argentinos, chilenos e uruguaios, e neste momento o projeto consolidará uma visão muito ampla sobre a identidade da juventude contemporânea destes quatro países da América do Sul. Os jovens dos outros países estão vivendo um processo igual a estes da Baixada Fluminense e de Recife. Por isso, eles vão se encontrar em Buenos Aires no fim do ano. Depois, outros grupos vão se reunir e repetir o processo nos dois anos seguintes e ter a mesma experiência de se capacitar para identificar necessidades, exigir direitos e políticas e, afinal, encontrar colegas de outros países que têm a mesma experiência.