29/10/2014 12:57
Camila Wiesiolek , de Carpina (PE)
Durante o Encontro de Mulheres do Campo e da Cidade, foram realizadas oficinas temáticas com as facilitadoras Suely Valongueiro, do Grupo Curumim, e Daniele Braz, educadora e ativista da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). A ideia foi partilhar momentos e debater temas estruturantes de interesse comum das participantes, como saúde, sexualidade e violência contra a mulher. O evento reuniu, nos dias 22 e 23 de outubro, cerca de 100 mulheres e foi promovido em Carpina, em Pernambuco, pelo Fundo SAAP, da FASE.
Violências contra as mulheres
Daniele Braz envolveu as participantes no debate sobre diversos tipos de violência contra a mulher, não somente a física. “A violência dessa sociedade patriarcal em que vivemos é a maior do mundo. Precisamos refletir sobre os sentimentos que temos em relação ao nosso papel na sociedade e na família, e às várias jornadas enfrentadas pelas mulheres”, salientou. Foram tratados ainda os conceitos de violência, violência contras a mulheres, e os principais tipos de violência doméstica e familiar: física, moral, patrimonial, sexual e institucional.
“A violência contra a mulher está presente em todas as classes sociais. Precisamos agir para haver mudança nas relações e não sofrermos violência de nenhum tipo”, afirmou Daniele. “As mulheres devem se conscientizar sobre o valor da autonomia e da coragem de dizer não, de que elas podem e devem mudar e não se acomodar. O encontro é um espaço onde elas podem perceber que o mundo é maior do que o que elas vivenciam. É importante fazer com que elas vejam que a sociedade machista/patriarcal as violenta o tempo todo, que o exemplo que trazemos é a violência física, mas existem várias outras. Isso tudo para que consigamos mudar o mundo a partir do feminismo, garantindo nossos direitos”, acrescentou.
Saúde e sexualidade
Na oficina ministrada por Suely Valongueiro, os detalhes sobre o corpo da mulher envolvidos na sua sexualidade foram tema de debate. As participantes partilharam suas experiências de vida sexual, o que as fez quebrar tabus e desmistificar atos e desejos. Elas até se emocionaram diante da oportunidade de se verem como mulheres autoras da sua vida em todos os âmbitos. “A vivência da sexualidade se articula com valores e normas no tempo e na cultura em que estamos inseridas. Sendo assim, é uma construção social e cultural”, afirmou Suely. “A sexualidade é tutelada pelos homens e a vivência é permeada pelo medo, culpa e influenciada pela sociedade e pela religião”, acrescentou.
Para Ermina da Silva Mialho, do Movimento das Mulheres Produtoras Rurais do Grupo Feito por Nós, do Mato Grosso, o encontro proporcionou uma soma de conhecimentos. “Estamos sempre querendo saber mais e sempre queremos mais em nossas lutas e reivindicações, e o encontro vem reforçar essa luta pela igualdade. As oficinas, como a de violência contra mulher, por exemplo, fazem com que reflitamos sobre nossas ações, muitas vezes a mulher pratica violência contra a própria mulher, precisamos estar cada vez mais atentas”, disse. Além de mulheres do Mato Grasso, o evento contou com integrantes de grupos produtivos em agricultura familiar e economia solidária de Pernambuco e da Bahia.
Avaliação
“O processo de luta é árduo e lento. Ao se encontrarem, essas mulheres percebem que as dificuldades são de todas e que elas podem ir em frente fortalecendo umas às outras. A grande questão é que isso elevará seu potencial para não se deixarem esmorecer. Os temas escolhidos para as oficinas são estruturantes para as mulheres e possibilitaram a troca de experiências e conhecimentos dos diferentes grupos”, afirmou Cléia Silveira, coordenadora do SAAP.
Já Mônica Ponte destacou a necessidade de sempre se dar continuidade à luta das mulheres. “Podemos perceber como elas estão se organizando, há autonomia econômica no sistema que elas vivem. Há uma maturidade política muito grande presente nas mulheres. A presença de jovens é algo a ser destacado também, pois com isso se tem a perspectiva de continuidade dessa luta das mulheres militantes por seus direitos”, completou ela, que também é educadora da FASE.