05/11/2014 18:09
Jean Pierre Leroy foi um dos destaques do 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente, promovido em outubro pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) em Belo Horizonte (MG). O assessor da FASE falou sobre direitos territoriais, justiça ambiental e saúde. Defendeu também a resistência aos processos de desapropriação dos territórios tradicionais e alertou que nesses territórios podem ser encontradas pistas para um futuro sustentável.
Ele explicou que o conceito de justiça ambiental é mais que somente uma definição. Disse que é o grito dos que não aceitam ser destruídos, eliminados e silenciados pela injustiça e pelos processos de produção capitalista. “Eles não querem ser vítimas enquanto o outro se beneficia do desenvolvimento, e também não são ultrapassados simplesmente porque escolheram viver em outro modelo de desenvolvimento. A justiça ambiental é, além do grito, uma afirmação de que não se pode pensar em um futuro para a sociedade brasileira sem que o meio ambiente se torne parte da nossa vida”, garantiu Jean Pierre, que também é da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA).
O pesquisador explicou que os territórios tradicionais são entendidos como espaços necessários a reprodução social, cultural e econômica dos povos e comunidades tradicionais. Porém, para Jean Pierre, essa é uma definição que não contempla a densidade dos territórios e o que eles significam. “Ao longo de sua história esses espaços se tornaram locais de luta, de resistência e de organização de uma forma própria de viver e pensar sobre o futuro”, afirmou. E completou o raciocínio falando sobre o significado da desterritorialização de povos tradicionais, como indígenas e quilombolas. “Muitos pensam: uns aqui, outros ali. O que significam esses números perto da densidade demográfica das nossas cidades? Porém, junto com a desterritorialização física vem a desterritorialização simbólica destes povos. Cortam as suas raízes e, com isso, eles perdem a possibilidade de continuar seu projeto de vida de integração profunda com a natureza”, destacou.
Campo e cidade
Jean Pierre ressaltou também sua visão sobre a Reforma Agrária. “Reforma agrária não é só uma coisa de assentamento. É um grande projeto de reconstituição do território, da agroecologia, é algo fundamental para as políticas, para a saúde. Sabemos que a agricultura familiar é capaz de dar comida à cidade. Não é a economia do pobre para o pobre. Não é uma autoeconomia só para quem vive na área rural. Sua potencialidade é muito maior”, enfatizou. Para ele, as populações das cidades precisam assumir o valor do rural, incorporar o rural como parte indissociável, dentro de um processo simbiótico. “Se a gente não realiza que o nosso futuro é ligado ao rural, por causa das águas, da alimentação, do clima, estamos fadados ao fracasso. Esse é o primeiro grande desafio”, garantiu.
Políticas Públicas
Um outro desafio, segundo filósofo francês, é fazer com que as políticas públicas sejam construídas com a população. “Uma política que vem de cima para baixo tem pouca condição de dar certo. É preciso reavaliar a participação existente. Que tipo de escuta? Que tipo de participação está havendo? Que vozes falam?”, contestou. Ele ressaltou ainda que não é suficiente analisar somente as decisões políticas de governo, é preferível falar em políticas de Estado, pois essas têm uma dimensão mais profunda.
“Estamos em um momento em que o capitalismo está em total internacionalização e tem a hegemonia sobre o mundo com a monopolização e oligopolização da produção. Portanto, o nosso debate parece pequeno, mas está inserido em opções mundiais. É bom não nos esquecermos disso, pois não queremos apenas construir uma saúde ambiental para o Brasil. Queremos um projeto de saúde e ambiental que esteja inserido dentro de uma perspectiva global, que vai muito além do imediato e do nosso pequeno mundo”, completou.
Carta Política
O 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente ocorreu dos dias 19 ao 22 de outubro. O tema central foi “Desenvolvimento, Conflitos Territoriais e Saúde: Ciência e Movimentos Sociais para a Justiça Ambiental nas Políticas Públicas”. Saiba mais por meio da Carta Política do evento.
*Com informações da Abrasco e da ENSP/FioCruz.