02/10/2020 12:08
João Paulo Guimarães¹
Eu sinto saudade de casa. Muita. Sinto falta de coisas bestas como cheirar o cabelo da minha filha deitada no meu colo assistindo aos vídeos que ela adora, da minha esposa conversando comigo sobre a televisão que ela quer comprar, mas que não podemos porque o dinheiro tá apertado. Aí eu começo a percorrer o país e registrar as queimadas. No Pantanal ou na Amazônia, o que eu vejo é só fogo. Sinto raiva dele.
Sobrevoo com a Força Nacional uma região destruída por chamas de 40 metros de altura. Clico animais em atendimento. Bichinhos feridos, mortos e aí consigo focar apenas na missão de levar as imagens da realidade que são as queimadas até pra quem é um negacionista ou não acredita nesse inferno que o pantaneiro e o amazônida vêm vivendo.
Foco na próxima pauta, na miséria que eu vejo por onde passo, como a que vi em Poconé, no Mato Grosso. A desigualdade, o mal escondido em cada discurso que contradiz tudo que existe de errado nesse país. Foco em fotografar a verdade que vejo, porque a fotografia não tem meio termo. Ela é fato. E o fato é que o nosso país tá queimando. Morrendo. Tá definhando.
Nessa hora eu lembro dos cabelos encaracoladinhos da minha filha. Do cheirinho da minha Amora. Ela não tem ideia de que tudo que eu faço é para que um dia ela olhe para mim e saiba que de uma forma minúscula eu tentei fazer a diferença.
Veja as fotos produzidas por João:
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[1] Fotógrafo paraense parceiro da FASE.