14/06/2021 17:27
Sara Pereira¹
Às vezes, calamos não porque concordamos com o que está sendo dito, mas porque não temos energia para discutir tamanho absurdo. É exatamente esse o caso dessa postagem. Por que cargas d’água transformam um homem numa mulher envelhecida para xingá-la de desorientada, desequilibrada, agressiva? Por que não mantê-lo como o homem perverso que ele é para “zoá-lo” com os mesmos predicados?
“Ah, mas vocês se ofendem com tudo, isso é só uma brincadeira”. Aí está um exemplo do machismo estrutural que permeia a nossa sociedade porque domina as estruturas da mentalidade, sobretudo, dos homens.
Ao reproduzirmos esses memes, sucumbimos a objetificação e inferiorização da mulher. A população LGBTQIA+ também é alvo preferencial de montagens como essa. Se a quadrilha bolsonarista representa o pior de tudo o que nos viola, por que ‘brincarmos’ colocando suas imagens em populações que já são as principais vítimas das atrocidades desses fascistas?
Nunca é demais lembrar que o tapa na cara, a faca na barriga ou a bala na cabeça são as últimas etapas da materialização da violência contra a mulher. Mas, antes de cruzar a linha da morte, essa violência dá passos cotidianos que vão desde as piadas sexistas, depreciações e afirmações de sentimentos de inferioridade que vão diminuindo a autoestima e a capacidade da mulher de acreditar-se como protagonista da sua própria vida.
É preciso que os homens compreendam que esse conceito de masculinidade no qual foram e são moldados é a válvula motriz desse processo de violência. Só a partir disso, teremos chances reais de estabelecer outras relações sociais, interrompendo a reprodução desse sistema patriarcal que viola e mata.
Que tal repensar o pai, o irmão, o tio, o primo, o filho, o marido, o namorado, o amigo que estão sendo para as mulheres das suas vidas? Como as mulheres da sua vida são afetadas pelas violências cotidianas cometidas por homens que pensam que estão apenas brincando? Bora refletir sobre isso?
[1] Educadora do programa da FASE na Amazônia.