06/09/2006 11:13

Francisco de Oliveira

Eu disse ali brevemente (durante a entrega do título) que o canudo que eu recebi será usado contra os inimigos da pátria, e nós estamos cheios de inimigos. O governo atual é inimigo do país, na verdade. É contra os trabalhadores, e eu vou usar este título continuando esse inconformismo, essa rebeldia e essa radicalidade. Acho que foi Celso Furtado quem disse que nunca estivemos tão longe do que pretendemos ser. É isso, resumindo. Nós estamos numa sinuca de bico, sem muita chance de sair dela, pelo menos com facilidade. O grau de radicalidade que se exige para qualquer solução no Brasil é de tal porte, que nenhuma força social está à altura dele. A burguesia porque perdeu o pé, não tem mais projeto de nação; parte do operariado porque agora virou aliado do sistema. Então, não dá para pensar que dessa massa amorfa vai sair revolução. É uma coisa muito inquietante, eu não penso isso com prazer, é com desgosto, mas para honrar esse título de Honoris Causa, eu não posso facilitar e vender ilusões. Vai exigir uma radicalidade que não está presente no horizonte brasileiro.

Aluizio Teixeira – Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro

O Chico de Oliveira é originalmente um sociólogo, mas é um pensador universal, e nesse sentido é também um economista, e tem uma contribuição ao debate econômico maior do que ao debate do campo da sociologia. As grandes contribuições do Chico foram no campo da interpretação do Brasil, da correta carcaterização do capitalismo brasileiro. Isso foi uma contribuição inestimável. Ele vem dando ao longo do tempo uma contribuição ao debate da política econômica. Um dos primeiros artigos do Chico que teve divulgação nacional foi em 1964, no qual ele fazia um balanço do PAEG, Plano de Ação Econômica do governo Castello Branco. Ainda hoje, ele é um crítico da política econômica. Ele aponta com clareza e justeza que essse modelo econômico que foi adotado no governo passado e perpetuado por este governo é gerador de um permanente impasse na economia brasileira. Ainda agora foram divulgados os dados do desemprego e verificamos que o desemprego voltou a crescer. E certamente isso está diretamente ligado a esse modelo de política econômica que o Brasil adotou. Ele é uma referência nesse debate pela importância que tem para o conjunto de economistas críticos desse país e pelas posições que vem adotando.

João Sabóia – Diretor do Instituto de Economia da UFRJ

“A Crítica à Razão Dualista” é um clássico. Naquele período, (1972) o livro teve uma importância e uma repercussão muito grande, principalmente no pensamento de esquerda. Provocou uma revolução na forma da esquerda pensar. E o Chico, muito embora seja um sociólogo, tem muita importância para os economistas, pela forma de interpretar o Brasil e sua economia. Em relação ao título, foi muito positivo que a proposição do título de doutor Honoris Causa para o Chico tenha partido do Instituto de Economia. Eu acho que a grande importância do Chico é porque ele é um pensador marxista que não fica preso a dogmas, a posições eternas. Se a economia está mudando, ele refaz a sua visão. E isso está muito claro em seu ensaio O Ornitorrinco. Sua crítica hoje é absolutamente atual, ele está discutindo o que acontece no Brasil hoje, e ele é uma pessoa singular, pois tem uma visão muito própria e está antenado com o que se passa no Brasil hoje. É um homem de 73 anos que está ativíssimo.