28/01/2009 16:04

Fausto Oliveira

Belém do Pará – Eles são marginalizados pelo Estado que tem obrigação constitucional de protegê-los. São tratados como lixo por corporações empresariais que batem no peito para se autoproclamar campeãs da defesa do meio ambiente. São deixados para lá pela mídia comercial que desconsidera sua voz e os acusa de oportunismo. Mas no Fórum Social Mundial de 2009, em plena Amazônia brasileira, os povos indígenas vão sim ter voz e terão que ser ouvidos. Este é o seu território, como ficou patente pelos discursos que representantes de várias nações fizeram ao final da marcha de abertura em Belém.

“Os povos do norte do Brasil devem ter cuidado, pois no sul, a destruição já aconteceu”, disse um cacique Guarani em sua fala para milhares de manifestantes reunidos na praça São Braz, ponto final da passeata que inaugurou o FSM. Ao lado dele, outras etnias indígenas tradicionais do Brasil traziam suas mensagens. Espalhados pelos tão diferentes territórios brasileiros, os povos indígenas deveriam ser ouvidos com muita atenção pelas autoridades, se elas querem saber o que de fato se passa com a terra. Porque, quando um Guarani fala de destruição nas áreas mais ao sul do país, está dando o testemunho concreto de algo difícil de perceber pela simples leitura de um depoimento.

A destruição da Mata Atlântica ao longo do século 20 é algo que afetou especialmente este povo indígena migrante que há cerca de 40 anos se assentou no sudeste. Por viverem no território de Mata Atlântica tradicionalmente, eles sabem que os cerca de 7% restantes não significam a efetiva sobrevivência do bioma. A ocupação do território por ciclos inteiros de desenvolvimento econômico depredador (pólos industriais, agricultura de exportação, urbanização desenfreada e padrões de produção e consumo insustentáveis) levou a Mata Atlântica a se tornar um pastiche do que já foi. Uma colcha de retalhos que não se compara à inteireza que já teve e cujos efeitos ambientais não são os que poderiam ser se padrões sustentáveis tivessem norteado a ocupação humana da costa brasileira.

Quando povos indígenas falam, deve-se ouvi-los com redrobrada atenção. São eles os principais conhecedores da terra e do território, talvez os únicos que possam de fato narrar uma história da terra em que todos vivemos. Os riscos postos pela malfadada expressão que fala em “ocupar a Amazônia” são bem conhecidos: fragmentação, usufruto econômico insustentável, abuso dos recursos naturais, perda de biodiversidade, desertificação, esvaziamento, morte. Cabe ao Brasil e aos demais países amazônicos refletir seriamente sobre isso. É isso que desejamos, simplesmente a troco de um PIB maior? No Fórum Social Mundial em Belém, os indígenas terão voz. Ótima oportunidade para um recomeço.