22/02/2017 11:28

Rosilene Miliotti¹

Na medida em que as famílias agricultoras assessoradas pelo programa da FASE na Bahia começam a diversificar seus plantios, criações e aplicam práticas sustentáveis, aumenta a percepção sobre a importância da organização desses grupos. “As famílias dispõe de pouca terra e por isso é preciso integrar estas atividades, aproveitando ao máximo os recursos disponíveis”, aponta Paulo Demeter, coordenador da FASE na região. Segundo ele, as alternativas que vem sendo implementadas são: a diversificação com adensamento dos plantios, consórcios de culturas e de sistemas agroflorestais que permitem o aumento no volume de produção, sem exigir novas áreas.

Reunião na comunidade.

Reunião na comunidade.

Desde o segundo semestre de 2016 e com mais ênfase em 2017, a assessoria técnica tem atuado em Limoeiro e Putumujú, em Teolândia; Pindoba, e Km 17, em Laje; Rio do Braço, e Duas Barras do Fojo, em Mutuípe; Tabuleiro da Santa, em São Miguel das Matas. No diálogo com essas comunidades, os educadores debatem a importância dos quintais agroflorestais que aos poucos tem mudado as áreas onde serão implantadas e que eram de monocultura. Também estão previstas, em algumas comunidades, a instalação do Projeto Agroecológico Sustentável e Integrado (PAIS). Conhecimentos baseados na vivência dos próprios agricultores e suas famílias são regularmente atualizados através das diferentes modalidades de formação e de assessoria realizada pela FASE na Bahia com o apoio da União Europeia².

Paulo explica que nessa trajetória, não adianta só diversificar e empregar métodos de cultivo e de criação sustentável se as famílias agricultoras não forem capazes de comercializar seus excedentes de produção em condições vantajosas do ponto de vista da geração de renda. “Buscamos criar oportunidades através da cooperativa, e de alternativas de agregação de valor à produção com unidades coletivas de beneficiamento de produtos e/ou de agroindustrialização comunitária”. Alisson dos Santos Costa, presidente da Associação de Putumuju, diz que o trabalho feito pela instituição é importante por sempre levar para as comunidades alguma inovação que ajuda a melhorar a agricultura local. “As novidades que os educadores da FASE trazem são importantes para que os agricultores não fiquem em uma zona de conforto e achem que o básico que já conhece seja a única forma, o suficiente”, analisa.

Plantação de mandioca e banana.

Plantação de mandioca e banana.

Para Aline Souza, educadora da FASE que atua em comunidades de Teolândia, é perceptível o avanço das famílias que são assessoradas pela organização. “Todas as comunidades em que nós atuamos é organizada por associações, grupo de mulheres e de jovens. Elas precisam estar organizadas para lutar por seus direitos. Não é que eles não saibam se organizar, mas muitas vezes eles não sabem por qual caminho percorrer para solucionar um problema”, pondera.

Aline, que é filha de um agricultor e de uma sindicalista, conta que todos os educadores ficam atentos ao lançamento de editais públicos. “Apresentamos as opções de investimentos e com base na realidade da comunidade e do que eles almejam. Participamos de todos os momentos: mobilização, organização documental, preparação dos projetos, envio e reuniões do processo de avaliação. As associações que foram beneficiadas pelo projeto Bahia Produtiva, por exemplo, foram as que a FASE assessora. Justamente porque eles têm acesso às informações”, ressalta.

Entretanto, o processo de acesso aos recursos é longo e exige muita paciência e perseverança por parte das famílias agricultoras, suas associações e a Coopeípe. “Os educadores precisam acompanhar todos os trâmites, dialogando permanentemente com as comunidades, direções associativas e representantes de órgãos governamentais envolvidos. Isto implica não só em estar presente nas reuniões realizadas nas comunidades, como também prestar assessoria direta nas unidades familiares para que os poucos recursos disponibilizados sejam aplicados da melhor maneira possível”, exemplifica Demeter.

Mais que educadores, amigos

Maria Zilda Costa, ex-presidente da Associação de Putumuju, diz que a criação desse laço é natural porque os educadores participam dos momentos em comunidade. “Não tenho dúvida de que se nós não tivéssemos a associação, hoje não alcançaríamos nossos objetivos. Recentemente conseguimos o projeto Bahia Produtiva e se não fosse o apoio dos educadores, seria muito difícil”, comemora. Contudo, Maria acredita que a participação deveria ser maior. “‘Santo de casa não faz milagre’, e por isso seria bom que os educadores viessem mais vezes, porque só assim para o povo se mobilizar”. A agricultora ainda lembra que é preciso organizar na teoria e na prática e diz que as mulheres, principalmente, pedem cursos como de fabricação de doces e salgados.

Aline, assim como outros educadores, fala da relação de amizade que constroem com as famílias atendidas pela FASE. “Sempre que visito uma comunidade, sou muito bem recebida. E quando demoro a aparecer, eles cobram minha presença. Sempre nos convidam para momentos festivos. No último São João, por exemplo, passei na casa da agricultora Celina Brito, na comunidade de Riacho do Cabloco. Era um momento em família, mas ela fez questão que eu participasse”. Já para Demeter, essa relação mais próxima fortalece as associações nas comunidades. “Isso reforça a percepção de que juntos, informados e melhor organizados, temos mais chances de conquistar melhorias que seriam impossíveis de se obter caso cada família tentasse resolver seus problemas isoladamente”, conclui.

[1] Jornalista da FASE com apoio da equipe do programa da FASE na Bahia.

União Europeia_editada[2] O trabalho do programa da FASE na Bahia junto à cooperativa é possível a partir do apoio da União Europeia (UE). O conteúdo deste artigo é de nossa responsabilidade exclusiva, não podendo, em caso algum, considerar que reflita a posição da UE.