17/07/2017 18:49

Gilka Resende¹

No contexto do “Encontro das Águas – oficina de diálogos e convergências entre redes”², organizações, movimentos sociais, fóruns e redes promoveram uma noite cultural na Lapa, no Rio de Janeiro. Houve a exibição de diversos vídeos e a divulgação de publicações.  Na ocasião, foram lançados a série de vídeos “Vozes pela Vida: a luta em Defesa dos Bens Comuns”, realizada pela FASE, e o concurso latino-americano de ensaios e fotografias “Alimentos e Pensamentos, sempre na agenda”, promovido anualmente pelo Instituto para el Desarrollo Rural de Sudamérica (IPDRS). Neste ano, o tema envolve enfoques sobre plantios, colheitas e o uso da água.

Clique e acesse o edital.

Maiana Maia, do Grupo Nacional de Assessoria (GNA) da FASE, explicou que o concurso visa estimular a reflexão e o debate entre países na América do Sul, contribuindo para a disseminação de conteúdos que normalmente não ganham visibilidade. “Nossas lutas precisam ser mais conhecidas. E essa é uma oportunidade de fazer isso por meio de belos textos e fotografias”, ressaltou. O concurso, aberto para pessoas de 22 a 35 anos, envolve premiação para os três mais bem colocados nas duas categorias.

Água é um bem comum

Manoel Inácio, do Ceará, integra iniciativas em defesa dos bens comuns como: viagens de bicicleta pela América Latina para trocar sementes criolas e fortalecer a diversidade alimentar da região; e mobilizações comunitárias a fim de rebrotar olhos d’água no Semiárido. Já Maria Teresa Corujo, mais conhecida como Teca, faz parte do Movimento Águas do Gandarela. Ela e seus companheiros lutam em Minas Gerais contra a expansão da mineração e em defesa das águas. Os dois são os entrevistados dos primeiros de uma série de 20 vídeos, que serão lançados pela FASE até o final deste semestre.

Os depoimentos foram gravados no Seminário Nacional “Bens Comuns: diálogos de práticas e saberes contra-hegemônicos”, realizado em outubro de 2016. A ideia da série é fortalecer lutas ouvindo vozes de povos tradicionais, camponeses, movimentos sociais, dentre outros grupos responsáveis pelo cuidado e defesa dos bens comuns. Manoel Inácio e Teca fazem parte de articulações em defesa das águas, um bem comum assim como a terra, as sementes, a comunicação, dentre outros.

Coletânea de produções

A atividade pública fez parte da programação do Encontro promovido pela FASE, a Campanha em Defesa dos Cerrado, o Núcleo Tramas e a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). O evento foi realizado de 12 a 14 de julho com a presença de cerca de 30 redes, fóruns e articulações. As campanhas, vídeos e publicações divulgadas relacionam o tema das águas a diversas denúncias envolvendo a mineração, a exploração petroleira, a construção de barragens, a falta de saneamento básico, dentre outros empreendimentos e conflitos sociais.

Evento ocorreu na Lapa, no RJ. (Foto: Rosilene Miliotti/FASE)

André Monteiro, da FioCruz de Pernambuco, apresentou o documentário “Os Invisíveis”, realizado por ele a partir do “Estudo ecossistêmico das populações vulnerabilizadas nos territórios de abrangência do projeto de transposição do Rio São Francisco”. O filme traz um apanhado de depoimentos e imagens que retratam as violações de direitos de grupos sociais afetados por esse megaprojeto hídrico, como indígenas, quilombolas, camponeses e mulheres. “O roteiro foi se formando a partir de longas viagens e das vozes dos impactados. Eles contam essa história. Um tema que aparece é o da violência de gênero, que era um assunto pouco falado quando comecei a pesquisar”, destacou André.

Outros vídeos³ foram exibidos: Vento Forte, realizado pelo Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP); Caravana Tapajós Vivo, uma produção do Movimento Tapajós Vivo; Água Boa, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) etc. Marcelo Calazans, do programa da FASE no Espírito Santo, apresentou ainda a publicação “H2O para a Celulose X Água para todas as línguas”. “Ela é de 2006, mas muito atual. Denuncia que a monocultura de eucaliptos é uma das grandes responsáveis pela destruição de nascentes, pela poluição das águas com os agrotóxicos e por impactos na vida de populações. O estudo conta como essa história começou, ainda nos anos 1970”, disse.

Berço das Águas

Além de apresentar a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, Isolete Wichinieski, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), convidou os presentes a assinarem a petição pela aprovação da PEC 504/2010. O texto reivindica que o Cerrado e a Caatinga tenham a mesma condição que a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica, ou seja, sejam considerados patrimônios nacionais.

“A legislação brasileira não garante plena proteção ao Cerrado. Esse bioma é considerado o berço das águas, e sua destruição afeta diretamente a questão hídrica”, destacou Isolete. “Se o Congresso aprovar a lei teremos mais força para impedir o desmatamento e a expulsão dos povos do Cerrado”, afirma Pedro Piauí, que passa a mensagem em um vídeo sobre a petição. Atualmente, a iniciativa conta com mais de 32 mil assinaturas.

[1] Jornalista da FASE.

[2] Oficina realizada com o apoio da Fundação Heinrich Böll e da Fundação Ford.

[3] Confira aqui a lista completa de vídeos enviados para o Encontro das Águas.