16/12/2008 17:17

O Fórum Social Mundial de 2009 será realizado em Belém do Pará, pela primeira vez na Amazônia. Que significado isso tem?

Graça Costa – Desde que chegou a informação de que o FSM 2009 se realizaria na Amazônia, os movimentos sociais e as ONGs da região pautaram efetivamente esse debate, de tal forma que o Fórum não fosse compreendido apenas como um grande evento ou uma feira de excelentes idéias sem compromisso social e político com o que está acontecendo na região, principalmente com a continuidade e o fortalecimento dos diversos processos de luta que ora se realizam aqui. Alguns pontos foram focados como estruturantes na realização do FSM na Amazônia. Cito alguns: 1 – Fazer do FSM um espaço onde amazônidas falem da Amazônia para o mundo e não o contrário; 2 – Criar alternativas para garantir a participação dos diferentes povos, culturas e movimentos sociais da Pan Amazônia no FSM; 3 – Manter vínculo entre os temas mundiais e os temas amazônicos; 4 – Afirmar o FSM na Amazônia na perspectiva central da discussão socioambiental, envolvendo, além das temáticas agro-florestais, temas como trabalho escravo, insustentabilidade de um determinado modelo de cidade para a Amazônia, a segurança alimentar, tráfico de mulheres, multiculturalismo e outros; 5 – Construir processos que culminem no FSM e continuem para além dele, fortalecendo uma integração mais democrática e sustentável na Amazônia brasileira, na Pan Amazônia (criação e consolidação do conselho pan-amazônico), na América Latina e no mundo.

Que questões devem ser as mais importantes nas discussões do FSM?

Desse ponto de vista, o processo de participação dos movimentos sociais e ONGs construiu uma dinâmica para indicar os principais temas. Eles fazem parte da proposta de arquitetura de discussão do segundo dia do FSM, dedicado inteiramente a Pan Amazônia e seu diálogo com os movimentos altermundialistas. Eles são: a) Desenvolvimento, mudanças climáticas, justiça ambiental, segurança alimentar; b) Trabalho em todas as dimensões, dhescas, fim da violência e da criminalização dos movimentos sociais; c) Terra e território, identidade, soberania nacional e soberania popular, integração regional (reafirmação das culturas dos povos originários; afirmação da identidade quilombola e dos afro-descendentes; soberania nacional e soberania popular (autonomia e estado plurinacional; contra a intervenção imperialista)

Acha que a realização de um FSM em Belém pode contribuir para que a Amazônia viva dias melhores em termos de sustentabilidade e democracia?

Sim. Vivemos um momento em que a questão mais evidente para o conjunto da sociedade é o da crise ambiental, e a Amazônia tem muito a falar sobre isso com o mundo. A forma acelerada do efeito estufa e o conseqüente aquecimento global são objeto de vários eventos mundiais e também de atividades internacionais já inscritas no FSM. Essa é uma questão de grandes proporções, diante da anunciada catástrofe ecológica global em escala inédita para a humanidade e que tem causas econômicas, políticas e sociais que devem ser enfrentadas pelo conjunto da sociedade, como é o caso da matriz energética, dos agrocombustíveis e da insustentabilidade alimentar. Portanto, a questão ecológica se coloca, para quase toda a humanidade, como um problema socioambiental. De outro lado, na medida em que o FSM Amazônia 2009 esteja efetivamente focado no protagonismo de diversos povos e movimentos sociais pan-amazônicos, seguramente resultará na construção e fortalecimento de alianças mais orgânicas e estratégicas entre os movimentos, que devem dar conta de uma agenda política e de novas plataformas de luta para discutir e pautar o atual modelo de desenvolvimento da Amazônia como uma questão nacional e mundial.

Quais são hoje os principais aliados e os principais adversários na luta por uma Amazônia democrática e sustentável?

Os aliados são, seguramente, todos os movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o Movimento de Mulheres em várias e diversificadas formas de atuação, o Movimento dos Quilombolas dos Pequenos Agricultores/as, o Movimento dos Atingidos por Barragens, o Movimento Popular Urbano. Também as organizações culturais e organizações não governamentais que têm se juntado em defesa da Amazônia livre do latifúndio e da concentração de terra, e que têm se articulado em grandes frentes de luta contra o modelo neoliberal que impera na região. Alguns governos em diversos níveis também contribuem, pois buscam novos caminhos através do enfrentamento das desigualdades sociais e econômicas. Os adversários principais são os grupos que articulam as políticas do modelo baseado nos agronegócios e no monocultivo, os madeireiros e os donos das carvoarias que escravizam homens e mulheres da Amazônia, além dos governos de países comprometidos com a Organização Mundial do Comércio (OMC).