Samis Vieira com edição de Paula Schitine
28/03/2024 17:49

Com riqueza de dados, gráficos, tabelas, foi lançado no sábado, 23 de março, no Projeto de Assentamento Agroextrativista PAE Lago, na comunidade Carariacá em Santarém, o Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental, publicação que apresenta dados das principais atividades econômicas praticadas pelas famílias assentadas (pesca, agricultura tradicional, extrativismo e a criação de animais), visando subsidiar a elaboração de políticas públicas voltadas para o fortalecimento da economia agroextrativista. O estudo foi realizado pela Fase Amazônia em parceria com a Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande – FEAGLE e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém – STTR.

Segundo Rosenilce Vitor, presidente da  FEAGLE, o diagnóstico contribuiu para visibilizar a produção agroextrativista das 154 comunidades, mas ao mesmo tempo permite compreender a importância da diversificação produtiva e o quanto esta contribui para geração de renda das famílias. Outro ponto que chamou atenção é com relação à alimentação à base de produtos saudáveis e sem o uso de agrotóxicos, por isso a luta pela terra é fundamental para que as famílias permaneçam no território.

A metodologia contou com reuniões de planejamento e mobilização das entrevistas, oficina de capacitação com 12 jovens lideranças das próprias comunidades abrangidas no estudo coordenados por quatro estudantes do curso de Agronomia da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA. A coleta de informações aconteceu em 16 áreas representativas dos diferentes agroecossistemas presentes em três zonas: Arapiuns, subzonas Alto, Médio e Baixo; Arapixuna, subzonas Santana e Salvação e Lago Grande, subzonas Alto, Médio e Baixo, em 53 das cerca de 154 comunidades definidas em discussão entre as entidades envolvidas no estudo. Foram realizadas 644 entrevistas com os membros das famílias, utilizando-se questionários estruturados, desenvolvidas por quatro grupos de entrevistadores durante 11 dias.

Vale lembrar, que embora a implementação de políticas públicas seja precária, o PAE Lago Grande é um território gerador de riquezas numa estreita relação das famílias com o território (floresta, terra, água, plantas, animais, sementes e a biodiversidade) com o uso partilhado dos recursos naturais, o que mostra e traz evidência concretas sobre a importância da manutenção do território coletivo para reprodução social das comunidades.

Segundo Darlon Neres, do Coletivo de Jovens Guardiões do Bem Viver, na história do PAE Lago Grande, desde a criação do assentamento esta é a primeira vez que as comunidades têm acesso a dados da produção, economia local e políticas públicas que existem e das quais precisam ser fortalecidas para melhoria da qualidade de vida das famílias. “Nós enquanto juventude temos que nos sentir pertencentes nesse processo e desse momento histórico do lançamento do diagnóstico produzido e publicado sobre o quanto a agricultura familiar produz comida saudável e como isso é invisibilizado. Portanto, precisamos ter esse documento como um instrumento de articulação política para cobrar do poder público as políticas públicas para o território”, afirma o jovem do Coletivo.

De acordo com o diagnóstico, a produção de farinha de mandioca é a atividade geradora de maior valor da produção, dentre os produtos processados nos estabelecimentos familiares para 71,4% das famílias entrevistadas que produzem anualmente 542,9 toneladas, sendo 320,3 toneladas para consumo familiar e 222,6 toneladas são comercializadas gerando um Valor Bruto da Produção Vendida, de R$ 420.679,04 (quatrocentos e vinte mil seiscentos e setenta e nove reais e quatro centavos). Se compararmos com a produção de mandioca do ano de 2023, a qual o efeito das mudanças climáticas contribuiu para perdas significativas na produção e consequentemente elevou o preço de mercado da farinha, esses dados seriam alarmantes. “Diante disso, reconhecer, visibilizar e construir estratégias voltadas para a reprodução das práticas agroextrativistas, que dialogue para o fortalecimento das comunidades e a reafirmação das identidades coletivas, são de fundamental importância para a manutenção dos modos de vida e a permanência das famílias no território”, afirma Samis Vieira, Educador Popular do Programa Regional FASE Amazônia.

Este estudo foi realizado no âmbito do “Projeto Todos os Olhos na Amazônia” apoiado pelo Greenpeace.

*Educador da FASE Amazônia e comunicadora da FASE