Suzana Devulsky e Marina Malheiro
26/09/2024 17:39

Entre os dias 19 e 21 de setembro, representantes da Rede Alerta contra os Desertos Verdes, juntamente com famílias de assentados das comunidades Angical, Canaã e Eldorado no município de Imperatriz e Cidelândia, no Maranhão, realizaram um mapeamento dos impactos ambientais e sociais causados pela atuação da Suzano Papel e Celulose na região. A ação foi organizada pelo Fórum Carajás, com apoio da FASE-ES, e contou com a presença de membros de diversas entidades, incluindo a Comissão Quilombola do Sapê do Norte (ES), o MUPOIBA (Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia), a FINPAT (Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá) e a CPT (Comissão Pastoral da Terra RJ/ES).

O objetivo principal da visita foi conhecer a realidade dos assentados ilhados pelos eucaliptais e denunciar as violações de direitos humanos atribuídas à indústria de celulose. Os relatos obtidos trazem à tona a destruição ambiental provocada pelos monocultivos de eucalipto e as ameaças à subsistência de comunidades assentadas. Entre os problemas identificados, destacam-se a contaminação de recursos hídricos e lavouras, a destruição da biodiversidade e a insegurança vivida pelas famílias, que relatam intimidações e agressões da Polícia Militar e de seguranças contratados pela empresa.

A ação culminou no dia 21 de setembro, em Imperatriz (MA), data marcada pelo Dia Internacional de Luta Contra os Monocultivos de Árvores, quando os manifestantes se reuniram para denunciar os impactos alarmantes dos monocultivos e a conivência de forças de segurança com a empresa. Segundo as organizações sociais, a Polícia Militar e seguranças privados têm atuado de forma violenta, promovendo demolições, incêndios de casas e florestas, e cometendo agressões contra os moradores da Fazenda Eldorado, uma área que já passou por processo de Reforma Agrária e que, há mais de 20 anos, é ocupada por famílias de pequenos agricultores.

As entidades denunciam que, apesar de a área já ter sido considerada improdutiva e destinada à Reforma Agrária pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), a Suzano continua tentando expandir seus monocultivos, conhecidos como “Desertos Verdes”, para dentro das áreas ocupadas pelas famílias de pequenos agricultores e agricultoras. A monocultura de eucalipto tem gerado a seca de rios e nascentes, além de prejudicar lavouras de subsistência e criação de animais, colocando em risco a vida de centenas de famílias que dependem dessas atividades.

A Rede Alerta contra os Desertos Verdes, que atua em diversos estados brasileiros, denuncia que o padrão de violência observado no Maranhão é recorrente em áreas impactadas pela indústria de celulose, como Espírito Santo, Bahia e Mato Grosso do Sul. Segundo a organização, a expansão desenfreada do monocultivo de árvores está diretamente associada ao desrespeito aos direitos humanos e à degradação do meio ambiente.

Os representantes das entidades exigem que o processo de destinação dos mais de 12 mil hectares da Fazenda Eldorado para a Reforma Agrária seja acelerado, garantindo a segurança e a dignidade das famílias que vivem no local. Além disso, reiteram a importância de se combater o avanço dos “Desertos Verdes” e de se promover uma reflexão profunda sobre os modelos de desenvolvimento que afetam as comunidades rurais e tradicionais no Brasil.

Como disse um dos líderes da manifestação: “É preciso dizer basta a esse modelo de monocultivo que destrói não só o meio ambiente, mas também as vidas das pessoas que dependem da terra para sobreviver”.

Para saber mais sobre o tema, leia a carta elaborada pela Rede Alerta contra os Desertos Verdes (disponível aqui) ou acesse o site: Alerta Contra Desertos Verdes – Resistência e comunidade

*Estagiária da Comunicação e Comunicadora da FASE, respectivamente.