Paula Schitine
18/10/2024 14:34
Um poço do campo de petróleo de Inhambu, da empresa Seacrest, em São Mateus, no norte do Estado, sofreu um blowout, ou seja, um vazamento descontrolado. O acidente ocorreu nessa quarta-feira (16). A FASE Espírito Santo que integra a Campanha Nem Um Poço a Mais e acompanha as atividades da petroleira denunciam a falta de transparência da empresa norueguesa.
Segundo Daniela Meirelles, coordenadora da FASE-ES, a petroleira chegou recentemente ao estado intensificando as degradações que a Petrobras já causava na região, com vazamentos constantes. Ela explica que no norte do Espírito Santo, onde aconteceu esse acidente, há muita exploração em terra, num lugar que tem uma grande densidade de comunidades tradicionais, sejam elas quilombolas, camponesas e de pescadores artesanais. “Então, a proporção desse vazamento vai causar muitos danos a toda a região, certamente, aos rios e córregos próximos que estão sendo impactados. A empresa faz parcas e ineficientes comunicações com as comunidades, não alertando para os riscos e necessidades de proteção nesse caso, que devem ter medidas urgentes”, denuncia a coordenadora.
Por isso, a FASE e parceiros da Campanha Nem Um Poço a Mais juntamente com parlamentares tentam agora uma incidência junto ao Governo Estadual para proteger os córregos, rios e as comunidades do entorno de forma imediata. “Exigimos ainda que tanto a empresa quanto o governo apresentem seus planos emergenciais de proteção, de cuidados, coisas que não estão claras, que haja de imediato uma reparação para as comunidades que vivem no seu entorno”, insiste.
Causas e Investigações
O Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro/ES) aponta que a causa pode ter sido problemas no manuseio. A entidade soube do problema ao receber vídeos de moradores da região e contatou a empresa para obter informações oficiais, mas a Seacrest se limitou a dizer que estava enviando uma equipe ao local.
A Seacrest adquiriu, no Governo Bolsonaro (PL), campos da Petrobras no norte do Espírito Santo, sendo 27 no pólo Cricaré, 5 no pólo Norte Capixaba, além do Terminal Norte Capixaba. O diretor de Comunicação do Sindipetro, Etory Sperandio, afirma que empresas como a Seacrest, ao contrário da Petrobras, que tem mais de 70 anos, não têm expertise na condução de projetos de óleo e gás.
A não retirada do material e do solo, bem como o descarte inadequado, podem causar danos ao meio ambiente, segundo Etory. Ele afirma que em caso de chuvas o material pode contaminar o lençol freático, além de fazer o mesmo com a fauna, a flora e seres humanos. Além disso, em alguns casos, um blowout pode causar irritação no sistema respiratório por causa dos óxidos de enxofre. O dirigente sindical comemora o fato de não ter havido vítimas fatais, mas alerta que esse tipo de acidente pode ter “alto potencial de dano”.
Histórico de abusos ambientais
A Seacrest está envolvida em outros acidentes que se mostraram como abusos ambientais. Em março de 2023 a empresa foi responsável pelo vazamento de aproximadamente 1,1 mil litros de petróleo, em Linhares, norte do Estado, no Polo Cricaré. Contudo, não foi multada pelo Iema. Em nota oficial, a autarquia informou que sua equipe de fiscalização “vistoriou o local onde houve um vazamento em um tanque de armazenamento temporário de óleo bruto (…) atingido uma área estimada em 2000m²” e que “lavrou auto de intimação determinando a limpeza imediata e a correta destinação dos resíduos”.
Estima-se que o vazamento tenha demorado alguns dias para ser detectado. “O derramamento de óleo ocorreu no município de Linhares, num poço de pequena produção de petróleo, com média de dois barris por dia, o que equivale a 300 litros. Com uma produção tão pequena, o poço deve estar há alguns dias em vazamento, o que promove um alerta ainda maior, visto que não há um mínimo de ações de prevenção e de cuidado por parte da empresa”, declarou na ocasião a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a partir de denúncia do Sindipetro.
“Com tudo isso, nós defendemos que fechem os poços de petróleo, porque estamos numa condição de emergência climática e de danos ambientais causados justamente pela exploração petroleira. Então, casos como esses demonstram a contramão profunda se continuarem a explorar petróleo. E essas são evidências claras do porquê temos que fechar esses poços de forma imediata e repensar toda essa cadeia produtiva de petróleo e gás de forma emergencial”, apela a coordenadora Daniela Meirelles.
Baseada em informações do site Século Diário. Leia mais aqui.
*Comunicadora da FASE Nacional