08/10/2021 14:58
Alcindo Batista¹
Comportamentos e atitudes machistas, que tentam impor a manutenção dos homens no centro da sociedade, passaram a pautar boa parte dos debates sobre que tipo de sociedade queremos construir. Diante disso, o programa da FASE na Amazônia promoveu entre os dias 20,22 e 23 de setembro a oficina “Novas Masculinidades” com moradores do Assentamento Agroextrativista PAE Lago Grande e de Santarém, no Pará. A ideia foi promover um debate mais plural sobre o que é ser homem nos dias de hoje e propor a desconstrução de algumas condutas.
A ação faz parte de um projeto piloto, expandindo o processo de formação interna que os educadores do programa da FASE na Amazônia vêm passando. Rud Rafael, da FASE Pernambuco, foi convidado para debater sobre a saúde do homem e como o machismo tem impacto na vida do homem em sociedade. Ele conta que, conforme as discussões foram acontecendo, surgiram “outras questões como o fato do homem ser o sexo forte o deixa fragilizado na dimensão do cuidado e a dificuldade que há de um geral em se abrir para falar dos seus medos, problemas etc…”.
Jaime da Cunha, educador da FASE Amazônia, fala que as discussões sobre a importância da saúde do homem e a respeito do seu verdadeiro papel na sociedade serviu “para que possamos ver o nosso comportamento hoje em dia”. Jaime complementa dizendo que cada um dos participantes interagiu positivamente as atividade, que falaram dos temas abertamente, se interessaram por uma continuidade do curso e se colocaram à disposição para falar sobre o assunto com as suas comunidades e os grupos mais próximos.
Masculinidade que adoece não só os homens, mas toda sociedade
Para Sara Pereira, educadora da FASE Amazônia, a oficina é um desafio não só para os homens que encaram esse processo de formação interna como também para as mulheres. E embora elas estejam desenvolvendo uma formação própria sobre “Mulheres e Agroecologia”, também participaram das formações sobre o que é ser homem nos dias de hoje. “A ideia é trazer à tona esse debate sobre essa masculinidade tóxica, que causa questões relacionadas a baixa autoestima e sobretudo a violência contra a mulher que fere e mata muitas de nós ainda hoje”, diz.
Samis Vieira, educador do programa da FASE Amazônia, ressalta a importância do debate em prol das mulheres, que na maioria das vezes é invisibilizado pelo machismo. “Esse combate (contra o machismo e o patriarcado) começa por nós, na nossa mudança de comportamento e não é apenas das mulheres”, comenta. O educador complementa dizendo que a oficina tem sido fundamental para a mudança de perspectiva, haja vista que os homens de um modo geral sofrem calados, sozinhos e precisam “sair da escuridão”.
A agricultora Rosenilce Vitor, uma das diretoras da Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE) admirou a iniciativa. “Enquanto mulher e diretora de uma federação que representa um território de quase 2.500 hectares, achei a oficina interessante para que muitos homens entendam o seu comportamento, independente da idade”, diz.
A diretora conta ainda que já sente uma renovação no diálogo com os homens, por exemplo, por muitos já entenderem que não só as mulheres têm o direito de fazer as tarefas de casa. “O ideal é levar essa ideia para as entidades e para toda a região e contribuir com os afazeres familiares, fortalecendo os coletivos, sem violência ou qualquer situação que afete a vida das mulheres”, termina.
[1] Estagiário, sob supervisão de Cláudio Nogueira