05/10/2017 17:33

Em nota¹, o Movimento Autônomo dos Pescadores de Cassurubá da Reserva Extrativista de Cassurubá, localizada nos municípios de Caravelas, Nova Viçosa e Alcobaça, na Bahia (BA), manifestam o descontentamento das comunidades tradicionais que são obrigados a conviver e tirar o seu sustento em uma região com o meio ambiente negativamente impactado e que afetam a manutenção dos seus modos de vida tradicional.

Imagem de satélite do Canal do Tomba, em Caravelas (BA) (Foto: Reprodução/ Google)

Eles denunciam que a empresa de celulose Fibria S.A., responsável pela dragagem do Canal do Tomba e acessos que tem por objetivo permitir a passagem das barcaças que transportam o eucalipto para a sua indústria de celulose em Aracruz, no Espírito Santo. “Tal dragagem promove graves impactos ambientais no território tradicional de pesca de aproximadamente 2mil pescadores artesanais. O processo de dragagem e descarte dos sedimentos resultam em assoreamento do ambiente estuarino, carreamento de material lamoso às praias e recifes de corais, soterramento dos bancos camaroeiros, alteração na dinâmica hídrica estuarina e limitação às áreas tradicionais de pesca pela hidrovia criada para transporte naval de eucalipto”, alertam em documento.  Além dos impactos causados pelo tráfego das barcaças, ainda há o envenenamento dos rios da região. Herbicidas e agrotóxicos são utilizados pela monocultura do eucalipto.

Em documento, os pescadores dizem ainda que a Fibria Celulose S.A. deveria ser obrigada a cumprir uma série de condicionantes determinadas pelo IBAMA, já que seus impactos ocorrem em Zona de Amortecimento de uma unidade de conservação federal. Dentre as condicionantes o Programa de Apoio às Atividades Pesqueiras exige que a empresa financie projetos em caráter indenizatório as comunidades tradicionais da Resex de Cassurubá. No entanto, a Fibria está se valendo de “artimanhas sorrateiras ao contratar uma empresa de consultoria, que ao invés de coordenar e orientar a execução dos projetos de maneira participativa, justa e isenta, promove a cooptação de lideranças e associações, no intuito de dividir, enfraquecer e manipular a participação popular”.

“Neste contesto, quatro extrativistas da Resex Cassurubá, Carlos, Jailton, Alan, Roberto e outras lideranças locais, estão com um forte processo de perseguição e criminalização pela Fibria e decidem assim enviar um forte sinal ao IBAMA, ao ICMBio e a Fibria Celulose S.A., que não irão mais tolerar o cinismo de falsas lideranças comunitárias associações e cooperativas de fachada, que valendo-se da convergência de interesses escusos com o maior poluidor do extremo sul da Bahia promovem o atrofiamento da manutenção da vida já suficientemente dura e sofrida dos irmãos e irmãs do mar e manguezais”.

Os pescadores foram comunicados que de amanhã, dia 6 de outubro, acontecem duas audiências nas quais eles estão sendo processados por uma das entidades ligadas à Fibria. O motivo‽ Por denunciarem em uma mídia local as irregularidades que ocorrem na região.

A nota diz ainda que há um agravante nesse contexto, a influência política e econômica da multinacional de celulose nos municípios de atuação. “A tensão nos últimos dias tem se agravado e os pescadores estão se sentindo ameaçados e encurralados, pois está em curso um processo generalizado de perseguição dessas comunidades, com o uso de falsas denúncias crimes, calunias, difamações, uso de mídias compradas, atingindo até a gestão da Reserva Extrativista de Cassurubá, que sempre manteve um posicionamento de defesa do modo de vida tradicional das comunidades pesqueiras, afim de debelar a resistência contra os maus feitos dessa poderosa empresa poluidora”. 

[1] Leia a nota na íntegra.