18/10/2008 12:50
Fausto Oliveira
Uma idéia que se repetiu no seminário da Fase sobre o modelo agrícola brasileiro é que os monocultivos em que se baseia o agronegócio são economicamente inviáveis. Irônico, sem dúvida, uma vez que as grandes plantações dos latifundiários exportadores são apresentadas como motor do desenvolvimento nacional. Mas é fato: as dívidas de ruralistas para com o governo não param de crescer. E dois agricultores presentes ao seminário deram entrevista ao Fase Notícias explicando como e por quê o agronegócio está fundamentado sobre uma farsa, e na verdade ele somente sobrevive porque recebe rações de dinheiro público de tempos em tempos.
“Isso que é apresentado como um grande progresso é na realidade um modelo que não tem sustentabilidade”, disse o assessor da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura, Edson Campos. Segundo ele, as recorrentes crises do agronegócio já mostraram que o modelo das grandes plantações não é economicamente viável. “O monocultivo vive uma crise a cada cinco anos. A cada cinco anos eles estão absolutamente endividados, têm que se refinanciar e quem paga é a sociedade. O dinheiro que sai para eles é do Tesouro, os juros que se deixam de pagar são ao Tesouro, é o nosso dinheiro, de todos os trabalhadores”, disse ele.
Romário Rosseto, da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores, concorda. Ele vive no Rio Grande do Sul e comentou a situação de seu estado. “A monocultura de soja no Rio Grande do Sul provocou o endividamento dos agricultores que nunca pagam suas contas. Então é um modelo inviável. E a sociedade brasileira acaba pagando a conta na forma de empréstimos e subsídios, como a Lei Kandir, que isenta de impostos a importação e exportação de insumos e produtos agrícolas. Mas além de economicamente inviável, ele é ambientalmente insustentável. Mesmo com a tecnologia transgênica, o volume de agrotóxicos aplicado na agricultura é absurdo Aquela conversa fiada de que os transgênicos iriam diminuir a quantidade de agrotóxicos, muito pelo contrário!”, afirmou Rosseto.
Em contraposição, Edson Campos mostrou como a pequena agricultura brasileira, de base familiar e produção diversificada, tem viabilidade econômica e empregabilidade social elevada. “Basta dizer que a agricultura familiar hoje, mesmo com menos crédito e menos terra, é responsável por 40% do alimento que a população consome. Com todos os reveses, ela consegue produzir e ser viável economicamente. Precisamos mostrar para a população que a agricultura familiar produz alimento mais saudável, socialmente mais justo e que tem empregabilidade, pois há famílias envolvidas naquela produção. Enquanto que no monocultivo você tem uma baixa empregabilidade, altíssima exploração da mão de obra e pouca contribuição para pôr o alimento na mesa da população”, afirmou.