30/07/2006 20:30
A FASE Pará e outras entidades que participam da campanha “Na Floresta Tem Direitos” acabam de lançar o resultado de uma pesquisa que mostra algo do drama socioambiental em que vive a Amazônia. O Mapa dos Conflitos Socioambientais na Amazônia é o resultado de um estudo através do qual foram revelados 675 casos de conflito na região. A maior parte deles está no Pará, mas Rondônia, Tocantins e Amapá também apresentaram números expressivos. O que são esses conflitos e porque eles revelam um problema que os problemas da Amazônia vão além do desmatamento?
A pesquisa adotou uma metodologia que ajuda a explicar o que são os conflitos socioambientais. Quem identificou a existência dos conflitos são as comunidades que sofrem diretamente com eles, ou seja, ribeirinhos, indígenas, pequenos agricultores, agroextrativistas, pequenas comunidades tradicionais. Em pelo menos dez ocasiões, pessoas que representam estas comunidades apontaram no mapa geográfico da Amazônia onde, segundo sua própria experiência, há conflitos. A indicação foi seguida de explicações sobre quem eram os atores envolvidos e as características de cada processo.
Foi então criado um banco de dados e, então, uma classificação dos conflitos em 14 tipos: recursos hídricos, queimadas, pesca e caça predatória, extração predatória de recursos naturais, desmatamento, garimpo, pecuária, monocultivo, extração de madeia, grandes projetos, regularização fundiária, ordenamento territorial, violência física declarada, e moradia. Nestes 14 itens, encaixam-se nada menos do que 675 casos de conflito apontados pelas próprias comunidades amazônidas.
O tempo abrangido pelo mapeamento vai de março de 2005 a janeiro de 2006, mas isso não quer dizer que os conflitos não quebrem essa barreira temporal. Há casos que começaram antes e continuam, outros ainda que se remetem a antigos conflitos que ainda não tiveram reparação aos atingidos. Para a antropóloga da FASE Pará Angela Paiva, que coordenou o projeto do mapa, a novidade é mostrar que a perda de área verde é apenas uma faceta de um problema muito mais complexo que afeta a Amazônia.
“O que é divulgado em geral é o índice de desmatamento da Amazônia, enquanto o mapa mostra as conseqüências disso e de outros problemas para comunidades locais. São milhares de amazônidas que sofrem com o que atinge a floresta”, diz ela. Angela também nota que o mapa não esgota o tema. “Várias pessoas já notaram que falta incluir conflitos históricos em estados como Maranhão, Tocantins, Acre e Roraima”, diz.
No Pará, que se destaca muito do resto como o estado onde há mais conflitos socioambientais, os tipos de conflito que mais ocorrem são por ordenamento territorial, extração de madeira, monocultivo, pecuária, recursos hídricos, mas também não se pode deixar de notar a recorrente violência física que deixa vítimas como a missionária Dorothy Stang, cujo mandante acaba de se beneficiar de um vergonhoso hábeas corpus conferido pela Justiça.
Por tudo isso, o trabalho de mapeamento feito pela campanha “Na Floresta Tem Direitos” vai continuar. Por agora, a visibilidade já alcançada pelo Mapa na grande imprensa servirá para despertar atenções do poder público para uma verdade mais que evidente: para manter viva a floresta Amazônica, será preciso mais esforço do que simplesmente conter o avanço do desmatamento, que já ocorre em escala grande demais. Será preciso mudar o modelo de desenvolvimento que ali se pratica, gerando inúmeros conflitos com prejuízo para a floresta e para os seres humanos que tradicionalmente vivem em harmonia dentro dela.