05/10/2007 17:52
Em mais um capítulo de um conflito fundiário que já se tornou histórico, os movimentos sociais do Espírito Santo organizaram esta semana uma marcha que percorrerá grande parte do território capixaba. Saindo de São Matheus, ao norte, na segunda-feira, cerca de 200 pessoas deverão chegar à cidade de Aracruz no dia 10. No caminho, estão parando em vários municípios para debater com a população local o modelo de desenvolvimento predatório adotado pelo estado e as conseqüências da concentração de terras por fazendeiros e corporações transnacionais.
A Marcha Popular pela Terra e pela Vida unificou os movimentos capixabas. Assim, estão presentes os indígenas Tupinikim e Guarani, os quilombolas do Sapê do Norte, grupos sociais que sofreram um duro impacto com a apropriação de suas terras pela empresa Aracruz Celulose há cerca de 40 anos. Mas não só eles. Quem organiza o ato é a Via Campesina, organização internacional de pequenos agricultores que luta contra os desmandos da agricultura empresarial (o famoso agronegócio).
No Brasil, os grandes movimentos sociais do meio rural são parceiros da Via Campesina, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que estão na marcha. O que unifica estes movimentos com a luta indígena e quilombola é a disputa contra um mesmo projeto de desenvolvimento que, se no Espírito Santo encontra um caso exemplar, pode ser verificado em todo o país. Trata-se da fórmula já tão conhecida no Brasil, que conjuga grandes propriedades de terra com uso intensivo de recursos naturais para servir à reprodução imediata e em larga escala do capital privado.
Daí que a Marcha Popular pela Terra seja um gesto político de todos os setores da sociedade capixaba que lutem contra o modelo de desenvolvimento concentrador de terras e riquezas oriundas do uso da terra. Paralelamente, este mesmo modelo é responsável por danificar as condições de vida dos povos, poluindo fontes de água e contaminando a terra com agrotóxicos. No caso da Aracruz Celulose, o mal maior é a vasta monocultura de eucalipto que tomou terras indígenas e quilombolas, ocupadas tradicionalmente até a chegada da empresa nos anos 1960.
Por isso, a chegada da marcha é em Aracruz, cidade onde fica a sede da empresa. Lá, os movimentos sociais farão um ato político massivo de apoio à luta indígena contra a Aracruz. Recentemente, como a FASE noticiou fartamente, o governo federal corrigiu uma injustiça histórica com relação à questão fundiária no Espírito Santo. Reconheceu oficialmente que 11.009 hectares de terra onde antes viviam os Tupinikim e Guarani, e que ainda são ocupados pelos eucaliptos, deveriam retornar aos povos originais. Enquanto os indígenas aguardam a homologação da terra como sua, e a posterior retirada da Aracruz, a marcha desta semana é mais uma afirmação de que a luta pelos direitos territoriais continua. Não se trata de questões localizadas, e sim de exigir um outro modelo de desenvolvimento para o Brasil.