02/04/2006 18:20

Fausto Oliveira

A substituição de ecossistemas inteiros por monoculturas de árvores também foi tema de uma forte denúncia na COP-8. Movimentos e organizações que se agregam na Rede Latino-americana contra as Monoculturas de Árvores (Recoma) estiveram em Curitiba para afirmar que as chamadas “florestas plantadas” – eucalipto e pinus, por exemplo – são de fato áreas desérticas, em que a biodiversidade é eliminada, assim como os recuros hídricos.

A Recoma e todos os seus integrantes, como a FASE e a Rede Alerta contra o Deserto Verde, lembrou que há 14 anos, na conferência Rio-92, os governos se comprometeram a adotar medidas que mantivessem a biodiversidade mundial. No entanto, apesar de centenas de relatórios, reuniões de todas as instâncias de governo e denúncias internacionais, monoculturas de árvore continuam assolando áreas gigantescas do Brasil e outros países.

Marcelo Calazans, coordenador da FASE Espírito Santo, conhece de perto a realidade das monoculturas de árvore. Naquele estado brasileiro, a Aracruz Celulose há quarenta anos começou a expulsar indígenas e quilombolas à força e na ilegalidade. No lugar das aldeias e das comunidades, plantou sua extensa monocultura de eucalipto, visando a produção de papel.

“Nós entendemos que aquilo não é uma floresta exatamente porque não há nenhuma biodiversidade. São centenas de quilômetros quadrados de eucalipto onde não há animais, nem outras plantas e muito menos fontes de água, pois o eucaliptal arrasa os recuros hídricos de onde se instala”, diz ele. É por isso que se cunhou a expressão “deserto verde” para designar este tipo de monocultura. Apesar de ter cara e jeito de floresta, não são florestas, são apenas monoculturas industriais com finalidade exclusiva de lucro para a Aracruz Celulose.

A Aracruz está instalada principalmente no Espírito Santo, mas também tem áreas em que planta ou quer plantar eucalipto na Bahia, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Ela é, sem a menor dúvida, uma das empresas com a maior carga de culpa pelo fato de que hoje a Mata Atlântica está reduzida a 7% de seu tamanho original.

Diante disso, a Recoma, a Rede Alerta contra o Deserto Verde, a FASE e tantas outras organizações, exigiram que os conferencistas oficiais da COP-8 deixassem claro o que são florestas, e excluíssem disso as monoculturas de árvores. Além disso, pediram também que a substituição de ecossistemas naturais pelas monoculturas fosse apontada como uma das maiores causas da perda de biodiversidade. Por fim, também exigiram que a nova tendência de criar árvores transgênicas fosse proibida. A COP-8, infelizmente, mais uma vez cedeu aos grandes interesses econômicos de empresas contrárias à biodiversidade, como a Aracruz, e silenciou sobre este assunto.