19/04/2010 12:37
Está aberta de hoje (19/4) até o dia 23, na cidade boliviana de Cochabamba, a primeira Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas e Direitos da Mãe Terra. Este evento é convocado pelo governo da Bolívia, mas quer ser muito mais do que uma cúpula internacional. Diferente das reuniões oficialescas que, principalmente quando a discussão é sobre mudanças climáticas, terminam com pouco ou nenhum resultado, este encontro mundial pode se tornar um divisor de águas.
Graças à oportunidade de um encontro mais democrático, com mais igualdade de condições para o diálogo entre atores de governo e de sociedade, é possível que de Cochabamba saiam esperanças para aquele que talvez seja o mais dramático de todos os vários problemas socioambientais gerados pelo desenvolvimento econômico moderno. Ali, estarão reunidas centenas de entidades e movimentos sociais, que poderão se expressar de forma livre (ao contrário das cúpulas oficiais) diante da parcela de governos que aceitaram participar de um evento mundial que não está no marco das Nações Unidas.
A Fase está profundamente identificada com esta discussão, e mais do que isso, com a forma como o debate do clima vai ser travado na Bolívia. Atuando diretamente nas rodas de debate e eventos políticos desta semana em Cochabamba, e também fazendo-se representar pelas diversas redes internacionais que integra, estaremos nos posicionando mais uma vez em favor da Justiça Climática, e contra a manutenção indiscriminada de formas de produção e consumo que já provaram ser culpadas pela crescente deterioração das condições de vida em nosso planeta.
Não é demais lembrar que, nos últimos anos, a quantidade de pesquisas acerca do aquecimento global já deixou bastante clara a necessidade de uma mudança grande e em curto prazo. Já sabemos que o lançamento de carbono na atmosfera na proporção de bilhões de toneladas por ano pode levar a temperatura global a subir além do tolerável. Sabemos que as conseqüências deste processo serão alterações climáticas e ambientais cada vez piores e mais intensas. As sociedades estão informadas de que este modelo de vida baseado em consumo excessivo de mercadorias e recursos naturais precisa ser de alguma forma alterado para evitar o pior. O que falta agora é a aceitação da parte dos Estados e dos poderes econômicos em realizar mudanças de rumo. Em dezembro, na cidade dinamarquesa de Copenhague, vimos a 15ª Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (a COP 15) não avançou por falta de acordo entre os países. Ninguém teve a coragem de assumir compromissos que implicassem perdas para as indústrias de seus países. Assim sendo, a coletividade saiu perdendo mais uma vez.
Na Bolívia, o que se espera é algo diferente. Ali, está colocada em pauta uma questão mais profunda do que a reprodução do capitalismo a despeito da natureza. A conferência de Cochabamba quer discutir os direitos da Mãe Terra. Baseando-se na noção tradicionalíssima da América pré-colombiana de que a Terra é viva e que, simbolicamente, pode ser comparada à figura da mãe por sua generosidade e acolhimento, esta conferência pode recolocar o debate em outro lugar. Um lugar melhor.