24/04/2006 12:30
Fausto Oliveira
A luta contra o livre comércio vem ganhando espaço junto a movimentos populares. Apesar de ser um tema complexo, já é possível se ver entidades como o MST enchendo um teatro com cerca de 500 pessoas para ouvir um debate sobre a questão. Foi o que aconteceu no 2º FSB, na atividade organizada pela Comissão Pastoral da Terra, a Marcha Mundial das Mulheres, a rede internacional Nosso Mundo Não Está à Venda e o próprio Movimento dos Sem Terra.
Ali foram trocadas experiências de lutas e vitórias contra o livre comércio. Sabendo que estava diante de uma platéia majoritariamente composta por pequenos agricultores, o convidado do Uruguai Alberto Villareal, da ONG Amigos da Terra fez uma análise do que representa a agricultura na negociação da Organização Mundial do Comércio. Para ele, a agricultura é apenas uma moeda de troca. Os países produtores de alimentos conseguiriam, no longo prazo, acessar os mercados europeus e americanos, mas em troca teriam que se abrir em áreas absolutamente essenciais para toda a população.
Mas isso, segundo Villareal, é uma transação que, nos países como o Brasil, só interessa às elites rurais. Elas é que ganhariam os mercados internacionais, a um preço que seria pago por toda a sociedade, na forma de privatizações da água, liberalizações de serviços bancários, educacionais e de outros ramos. Fora a abertura industrial que, segundo a CUT, custaria no mínimo dois milhões de empregos. “É fundamental que o movimento camponês brasileiro diga ao governo que ele não o representa, e sim ao agronegócio. É exatamente o que quer a OMC, uma agricultura sem camponeses, só com a agroindústria”, disse o convidado.
Outro convidado internacional, Francisco Quisbert, da Bolívia, veio representando o novo governo de Evo Morales. Ele trabalha num órgão do Ministério da Água, criado por Morales devido às recentes controvérsias da Bolívia com empresas européias na gestão da água. “Para nós bolivianos, a água é o sangue da mãe terra”, disse Quisbert na abertura de sua fala. Ele participou da chamada Guerra da Água, na cidade de Cochabamba no ano 2000, e lembrou daquele episódio. “A empresa Águas de Tunari assumiu a gestão da água em Cochabamba aumentou em 150% o preço do serviço. Depois, famílias que retiravam água de poços em suas casas passaram a ser cobradas por isso. Por isso fizemos a Guerra da Água, tivemos cinco mortos, mas conseguimos mudar a lei e expulsar a Águas de Tunari”. Ao relatar esta vitória, Quisbert recebeu uma chuva de aplausos do auditório. Hoje, segundo ele, a Bolívia tem uma empresa social para gestão compartilhada da água, na qual o governo e a sociedade participam.
Maisa Mendonça, da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, também trouxe um pouco de sua experiência no combate ao livre comércio. Um caso que ela conhece de perto é o do México. Lá, onde foi assinado já nos anos 90, um acordo de livre comércio integrando o México aos Estados Unidos e ao Canadá, o milho foi a vítima principal. “O milho é uma cultura tradicionalíssima no México. Mas com o acordo de livre comércio, 3 milhões de camponeses foram à falência e hoje o milho é controlado por empresas comprometidas com o mercado internacional. Por isso, hoje, o México importa milho”, disse ela.