Marina Malheiro
30/07/2024 12:18
Nos dias 18 a 20 de julho aconteceu o primeiro Fórum de Saberes da Bacia Hidrográfica do Itabapoana, organizado pela ONG REDI, parte da Campanha Antipetroleira “Nem Um Poço a Mais”, e parceira da FASE há alguns anos.
O fórum, que aconteceu na cidade de Bom Jesus do Itabapoana, contou com a presença de outras lutas contra a instalação de portos, como do movimento “SOS Porto Não” de Jaconé (RJ), além de muitos alunos do campus local do Instituto Federal Fluminense (IFF). A participação da juventude foi um dos pontos altos do evento, destacando a importância de engajar os jovens nas articulações da sociedade civil para promover o pensamento crítico e a formação política.
Clara Junger, educadora da FASE Espírito Santo, foi facilitadora da oficina “Mobilizar para a Efetiva Participação Social nos Processos de Decisão”, uma das diversas oficinas temáticas realizadas ao longo do evento. O tema abordado por Clara teve como objetivo incentivar a participação ativa da comunidade nas decisões que afetam suas vidas, especialmente em questões ambientais.
“A importância que é trazer a sociedade civil para esse debate dos recursos hídricos, que muitas vezes ficam reduzidos aos interesses dos grandes usuários de água, das grandes empresas. E lembrar nesses espaços que o rio é um sujeito de direitos, mas que também tem muitas outras funções sociais na vida das comunidades ali do entorno: de abastecimento de água, da agricultura, da pesca, do próprio lazer. Foi um espaço para poder fazer essa discussão envolvendo também os alunos do IFF. Foi ótimo trazer uma juventude para participar desse debate”, compartilhou a educadora.
O rio Itabapoana nasce em Minas Gerais e é um marco geográfico importante, dividindo a fronteira entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Suas águas são vitais para muitas comunidades ribeirinhas e pescadoras. Apesar disso, a gestão deste rio é extremamente complexa, atravessando três estados, o que dificulta avançar no debate sobre a necessidade de reconhecê-lo como um sujeito de direitos, uma ideia emergente na luta por justiça ambiental.
O Itabapoana tem sido alvo de diversas violações, principalmente pela presença de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que, apesar do nome, têm causado grandes impactos negativos. Em muitos trechos, o rio foi reduzido a um filete de água, afetando a pesca, as micro-captações de água e o lazer da população local. Muitas áreas próximas às barragens agora possuem restrições severas quanto ao nado e à pesca.
Além disso, a energia gerada pelas PCHs não é utilizada para o abastecimento local, sendo em sua maioria enviada para Minas Gerais. Esse cenário torna ainda mais urgente o debate sobre a construção do Porto Central na foz do Itabapoana, uma ameaça significativa ao ecossistema e às comunidades dependentes do rio, seus mangues e do mar.
O fórum mostrou grande valor enquanto espaço de discussão sobre essas problemáticas, especialmente ao envolver a juventude local na conversa. A troca de conhecimentos e experiências fortalece a resistência contra projetos que ameaçam o meio ambiente e as comunidades. Além disso, a participação de jovens estudantes é fundamental para garantir que as futuras gerações continuem a luta por justiça e sustentabilidade.
A FASE e a REDI, com suas parcerias e campanhas, se mantém como importantes forças mobilizadoras, promovendo a defesa do meio ambiente e dos direitos das comunidades locais.
O primeiro Fórum de Saberes da Bacia Hidrográfica do Itabapoana marca mais um passo nessa jornada, reforçando a necessidade de uma gestão mais justa e sustentável dos recursos hídricos e a fundamental participação social nos processos de decisão.
*Estagiária da Comunicação, sob supervisão de Suzana Devulsky