28/01/2010 15:31
Fausto Oliveira
Nestes três dias, serão recolhidos depoimentos sobre casos de injustiças ambientais, com a finalidade de montar uma base de informações que, uma vez robusta e publicada, será uma importante ferramenta de crítica ao modo violento e excludente como o Brasil escolheu desenvolver sua economia.
Segundo Tânia Pacheco, pesquisadora do tema e grande aliada da Fase na luta contra o modelo hegemônico e insustentável, o Grupo de Trabalho sobre Racismo Ambiental, do qual ela também faz parte, conseguiu consolidar e ampliar a temática do racismo ambiental no país. Criado nos Estados Unidos em função da luta dos negros contra o despejo de resíduos tóxicos e lixo nas vizinhanças pobres onde moravam, o racismo ambiental hoje é uma noção ampliada. Não está vinculado à cor de pele, mas sim à necessidade de manutenção da vida frente à sanha destruidora do capital.
“A grande luta no Brasil hoje é pelo território. Ainda hoje, 30% da produção do campo brasileiro são alternativos, e não estamos falando só de agricultura familiar, mas também da importância de grupos como quebradeiras de coco babaçu, geraiszeiros, marisqueiros, pescadores artesanais, quilombolas e muitos outros que estão lá, resistem mesmo quando os projetos megalômanos querem destruir sua produção e torná-los pessoas invisíveis, para que possam dar lugar à carcinicultura, às hidrelétricas, ao monocultivo de soja e etc.”, define Tânia.
A pesquisadora toca no ponto crucial da questão do desenvolvimento neste início de século, que não se resume ao Brasil, já que provoca danos semelhantes em todo o sul geopolítico. “Essa coisa insaciável e violenta que se vê hoje no campo brasileiro só se viu no início da colonização e com os bandeirantes. Mas hoje é ainda pior porque o poder destruidor do ambiente e das pessoas é tecnológico. Destrói-se toda uma floresta em questão de dias”, afirma. E paralelamente, corre uma campanha que bem poderia ser classificada como ideológica de difamação e descrédito dos grupos sociais que na verdade são as maiores vítimas disso que agora é hipocritamente chamado de progresso. “Essas pessoas, que estão lá no campo lutando por nós, pela permanência da vida no planeta, são chamados de falsos índios e falsos quilombolas nas páginas de opinião de grandes jornais brasileiros”, acusa Tânia Pacheco.
A discussão destas questões, somada aos relatos de vários e muitas vezes tristes casos que vêm ocorrendo no país devido ao avanço das empresas e dos mega-projetos, é o que vai acontecer em Fortaleza. O seminário abre com a mesa “Racismo Ambiental, disputa pelo território e modelos de desenvolvimento nos marcos do capitalismo”, passará por debates que também envolvem os impactos do modelo nas cidades e se concluirá com a mesa de debates intitulada “Desenvolvimento como, para quê e para quem? Racismo ambiental, resistências e alternativas”. O encerramento do evento vai acontecer fora da cidade, na aldeia do povo indígena Anacé.
Ao final, dois mapas serão trabalhados, um do Brasil, outro do Ceará. Nestes mapas, serão localizados os casos de conflito ambiental relatados durante o seminário. Cada conflito terá uma sistematização em forma de texto. Somadas as informações, o GT sobre Racismo Ambiental terá mais uma importante ferramenta de denúncia e apoio crítico à luta contra o capitalismo sem freios e sem critérios cujo modelo de desenvolvimento necessitamos com urgência limitar e controlar melhor.