20/04/2007 10:34
Fausto Oliveira
Uma das maiores organizações sociais da França recebeu a visita de cerca de 40 parceiros de países em desenvolvimento durante os dias da Quaresma. Um dos parceiros do Comitê Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento (CCFD) é a FASE. Estiveram lá o coordenador do Projeto Brasil Sustentável e Democrático, Jean Pierre Leroy, e a educadora da FASE Amazônia Vânia Carvalho. Eles representaram um pouco da contrapartida brasileira do esforço do CCFD, que é um dos principais apoiadores da FASE por aqui. E perceberam como a luta por um desenvolvimento em outros moldes – com respeito ao meio ambiente e às populações marginalizadas – tem grande simpatia dos franceses.
A visita dos parceiros do CCFD é um ponto alto de sua programação anual. “O CCFD não é uma organização burocrática de ajuda. Ele é composto por um coletivo de organizações ligadas à igreja católica. E a maioria dessas organizações é de militantes. Quando eles chamam a gente, eu diria que primeiro seria para mostrar que a solidariedade não é dar o dinheiro, e sim que se trata de uma parceria política. Para mostrar que estamos engajados todos na mesma causa, cada um no seu lugar. Nossa presença dá ânimo aos militantes do CCFD, e aos profissionais também. É o ponto alto do ano, para eles”, diz Jean Pierre Leroy.
O que acontece durante a visita dos parceiros é uma série de reuniões com grupos de franceses que demonstram profundo interesse nas grandes questões dos países onde apóiam organizações sociais. “Fiquei impressionado de ver que em muitos lugares havia muita gente com clareza de que a exportação a todo custo de soja, por exemplo, não é bom para nós e nem para eles. Tive contato com organizações camponesas que questionavam o fato de a agricultura na França ter que deixar terras sem cultivo porque há sobreprodução. Eles dizem então que poderiam produzir culturas que poderiam substituir a soja para alimentar o gado francês. Mas as condições do mercado internacional fazem com que a soja plantada em terras baratas do Brasil consiga preços que eles não conseguem alcançar”, afirma o coordenador da FASE.
“Todo mundo fala que devemos voltar a um desenvolvimento mais local e regional. Chamou a minha atenção também a desconfiança desses grupos e do CCFD em relação aos biocombustíveis. Eles perguntam de onde vem esse etanol. E quando a gente explica o grande risco de maior destruição do cerrado e da floresta amazônica, que isso arrisca produzir mais expulsão de camponeses e mais trabalho superexplorado e mesmo trabalho escravo, aí eles têm a clareza de que se deve ir prudentemente”.
As pessoas ligadas ao CCFD demonstraram interesse em outras questões do desenvolvimento e da própria configuração social brasileira contemporânea. “Em quase todos os grupos, se eu não abordasse a questão amazônica, perguntavam sobre a floresta. A segunda questão que sempre voltava era dos direitos da população. A outra era a questão de como a igreja se situa nisso, se está do lado dos oprimidos ou não. Outra é a questão da violência na luta pela terra. E também a questão urbana: perguntavam muito sobre os jovens. Há emprego, há escola, há possibilidade de futuro ou a violência os atinge?”
Esta não foi a primeira vez que a FASE participou da visita ao CCFD na época da Quaresma. Mesmo assim, Jean Pierre define esta sua experiência como uma ocasião de troca e parceria. E isso é um estímulo para seguir na defesa de um outro modelo de desenvolvimento para o Brasil, diferente do atual que não respeita direitos humanos e tampouco considera limites de ordem ambiental. “A gente encontrou um parceiro”, diz ele.