15/11/2008 17:05

Fausto Oliveira

Uma participante do encontro promovido pela Fase e a rede Oilwatch trouxe uma importante contribuição ao debate sobre alternativas à dependência do petróleo. Esperanza Martínez, da ONG equatoriana Acción Ecológica, falou ao Fase Notícias sobre um modelo inovador de gestão dos recursos petrolíferos de seu país. Trata-se de uma idéia ainda embrionária, porém promissora exatamente pelo fato de que muda a lógica da exploração de petróleo adotada pelo mundo até os dias de hoje. Como resposta para vários problemas relacionados à petro-economia, no Equador começam a deixar as reservas de óleo no subsolo.

“Nós ligamos fatores que não são ligados publicamente: as mudanças climáticas, o petróleo, a redução da biodiversidade e os direitos das populações que vivem nas regiões de extração de petróleo e gás”, diz ela. Para entender a proposta equatoriana, é preciso olhar o contexto renovado da política do país. Sob um governo de orientação popular, o Equador mudou sua Constituição. Entre as várias alterações, reconheceram-se muitos novos direitos. Um deles, por exemplo, é o direito da natureza a ter direitos. “Esta é uma reivindicação ligada a povos indígenas tradicionais do Equador que afirmam que, mais do que nos servir, a natureza tem direitos por si própria, direito a manter sua estrutura em boas condições. Nós, como parte dela, dependemos de que ela funcione bem para vivermos”, diz Esperanza.

Assim, a ONG equatoriana vem promovendo uma campanha que afirma basicamente o seguinte: se está provado por cientistas que o consumo excessivo de petróleo é causa direta dos desequilíbrios climáticos, é uma aberração manter a corrida por mais e mais petróleo para atender uma demanda que só cresce. Em vez disso, propõe-se um caminho de não exploração como forma legítima de preservar aquilo que é patrimônio de todos. É evidente que isso implica uma mudança nos padrões de produção e consumo, e é óbvio também que não se pode esperar rapidez nestas mudanças. Mas por que não pensar na hipótese, uma vez que manter tudo como está vai aprofundar este problema que já compromete as condições de vida no planeta?

Para Esperanza Martínez, a idéia de que o crescimento econômico dos países depende da exploração de petróleo é coisa do passado. Segundo ela, o próprio Equador empobreceu depois que se tornou explorador do minério. Se for posto na balança o lucro obtido pela Petroequador contra o prejuízo sócio-econômico de indígenas, agricultores desalojados e outros grupos que não foram reparados pela indústria, a visão chapada de que a riqueza petrolífera é irrestrita e incondicional cai por terra. Ela existe, mas é apropriada por transnacionais e Estados, e mesmo no caso destes últimos não se converte em benefícios para as populações, e sim em mais poder para o jogo político internacional. “Portanto, se os povos dizem que estão fartos desse caminho, nos parece legítimo propor um caminho de não exploração”, diz ela. Pode ser o princípio de uma nova e criativa maneira de viver em que a harmonia com a natureza volte a ter prioridade.