29/11/2016 11:35
Quantas Marianas (MG) serão necessárias para que o Brasil reveja seu modelo de desenvolvimento? A partir dessa questão, a FASE, a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) e o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração produziram o vídeo “Não foi acidente”¹. Além de relembrar as irresponsabilidades da empresa, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, a produção destaca que o crime ambiental está relacionado a uma lógica que se repete pelo país, ameaçando a biodiversidade, a economia local e os modos de vida de populações em diversos territórios.
Com o preço dos minérios em baixa no mercado mundial, a lucratividade é garantida pelo aumento da extração dos bens naturais e pela redução dos custos empresariais nessa exploração. Segundo dados do Plano Nacional de Mineração, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, o Brasil pretende triplicar a extração mineral até 2030. “Hoje, cerca de 60% da produção mineral no país são destinados à exportação. E essa exploração é realizada em larga escala por empresas que controlam terras e águas. Frente aos interesses dessas corporações, o Estado altera regras de licenciamento ambiental e media acordos que mantém impunes crimes como o de Mariana”, critica Julianna Malerba, que dirige o filme junto a Maiana Maia, ambas do Grupo Nacional de Assessoria (GNA) da FASE.
Atualmente, os atingidos pelo desastre em Mariana ainda lutam para reconstruir suas vidas. A tragédia deixou 19 mortos, 1200 desabrigados e mais de 3 milhões de pessoas afetadas. A contaminação do Rio Doce impactou os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e alcançou o litoral da Bahia. “Um licenciamento ambiental precário, a sobrecarga da capacidade da barragem, a ausência de fiscalização e de um plano de emergência, além da total falta de informações aos atingidos, antes e depois do desastre, revelam que não foi acidente”, destaca o vídeo.
Territórios X Mineração
“Não foi acidente” reúne vozes do Assentamento Agroextrativista Lago Grande, no Pará, que se encontra ameaçado pela exploração de bauxita; do assentamento de Reforma Agrária Roseli Nunes, em Mato Grosso, onde a produção de alimentos saudáveis pode ser prejudicada pela extração de minério de ferro e fosfato; de uma região do semiárido cearense, em que a mineração a céu aberto de urânio e fosfato pretende consumir, por hora, o equivalente a 115 carros pipa de água; e de pescadores e pescadoras artesanais do Espírito Santo que poderão ser impactados por três minerodutos.
Os depoimentos do vídeo foram gravados um mês após o rompimento da barragem da Samarco, quando lideranças de diversas regiões do país ameaçadas pela expansão da mineração visitaram Bento Rodrigues. De acordo com o IBGE, quase 85% da população do distrito são não-brancos. “Alguns grupos estão mais expostos aos riscos ambientais e se encontram em situação particularmente vulnerável quando desastres como este ocorrem”, pontua Julianna.
[1] O vídeo contou com o apoio da Fundação Ford e da Fundação Heinrich Böll.