06/12/2016 13:36
Coletivo de Comunicação do Encontro¹
O 7º Encontro Estadual de Agroecologia em Mato Grosso contou, além de debates, oficinas e feira de comercialização de alimentos saudáveis e artesanatos da economia solidária, com a realização de um ato em praça pública no centro de Cuiabá. A ideia foi apresentar à população urbana as reivindicações de agricultoras e agricultores familiares, afirmando a agroecologia como modelo social, político, econômico e ambientalmente viável. O atual ataque à democracia no Brasil, a importância do feminismo e críticas ao agronegócio também foram pontos de destaque na manifestação, que ocorreu na quinta-feira (1º).
Os participantes leram poesias, cantaram e falaram sobre os ataques aos seus territórios. “Estamos aqui para denunciar a agricultura da morte, o agronegócio. Eles dizem que vão trazer progresso. É mentira! Desenvolvimento para a gente, que faz a agroecologia, é vida. Dinheiro não é desenvolvimento. Lucro é produzir alface, almeirão, rúcula, mandioca, batata, é produzir vida”, afirmou Nério Gomes do assentamento Roseli Nunes situado em Mirassol d’Oeste, no sudoeste do estado e membro da Associação Regional de Produtores Agroecológicos (Arpa).
Um panfleto que explicava as vantagens da agricultura familiar para as cidades foi distribuído. De acordo com o extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), 70% dos alimentos que chegam às mesas no país são produzidos pelo setor. “Quem alimenta os moradores de Cuiabá? A agricultura familiar!”, gritaram. Enquanto isso, o agronegócio produz monoculturas, como a de cana-de-açúcar e a de soja, para a exportação. “Soja é para ração. Agroecologia é revolução”, foi outro grito ouvido no ato.
Democracia, mulheres e agroecologia
“Podes me vender o que puderes do seu céu? Podes me vender chuva?”, recitou a poeta Angelita Patrícia. O questionamento feito ao microfone fez referência à transformação de tudo em mercadoria, inclusive o corpo das mulheres. Agricultoras familiares, integrantes de movimentos sociais e estudantes tiveram protagonismo na manifestação, levantando lemas como: “uma sociedade sem violência é direito das mulheres” e “sem feminismo não há agroecologia”.
“Somos mulheres do campo, da cidade e da floresta e queremos uma sociedade com mais solidariedade. Exigimos respeito! Basta de violência contra as mulheres!”, disse Glória María Muñoz, assessora da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Pouco depois, uma ciranda ganhou a praça. De mãos dadas e passos marcados, todas e todos dançaram e celebraram a luta de organizações, movimentos sociais, sindicatos e associações que defendem a agroecologia. Aliás, a manifestação teve fim ao lado de um monumento da Justiça, numa tentativa de “arrancar a venda” dos que acreditam que o agronegócio “é tech, é pop, é tudo”.
Troca de saberes em oficinas
Pela tarde, ocorreram oficinas no ginásio Aecim Tocantins, onde aconteceu o Encontro organizado pelo Grupo de Intercâmbio em Agroecologia (Gias). O objetivo foi, além de proporcionar a troca de conhecimentos, elaborar um documento de propostas a fim de fortalecer a agricultura familiar e a agroecologia em Mato Grosso.
O agricultor Dezi do Nascimento, de Cotriguaçu, participou da oficina sobre a relação entre “saúde e agroecologia”, espaço que deu destaque às ervas medicinais. “É preciso ter cuidado com as plantas. Ter com elas o mesmo zelo que temos com a gente”, disse. Também houve troca de saberes sobre rações naturais para a criação de aves, bovinos e porcos. Uma das conclusões foi a de que é preciso evitar “produtos de fora da porteira feitos com soja transgênica e cheios de químicos”. Também se debateu a realidade das juventudes do campo, os mercados para a agroecologia, os impactos dos agrotóxicos, dentre outros temas.
Povos tradicionais e agroecologia
O terceiro dia do encontro terminou com lançamentos e apresentações culturais. A linha de alimentos agroecológicos “Do Quilombo” foi apresentada pelo Grupo de Mulheres Mãe Rosa, que produz licores, chips e farinhas a partir da banana. Além de gerar autonomia econômica, a quilombola Laura da Silva explica que a iniciativa serve para unir mulheres contra o machismo e o racismo. “Um povo sem identidade é um povo sem história. Nossa resistência aconteceu de várias maneiras. Uma delas foi através das roças de subsistência”, destacou.
Na ocasião, também foi lançado o relatório ‘Violência contra os povos indígenas do Brasil’, elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Segundo Natália Filardo, que faz parte da organização, Mato Grosso possui cerca de 43 povos indígenas. “Eles vivem em uma situação de mais e mais retrocessos”, lamentou, aliando o tema à crise da democracia no país. Pelo menos oito povos compareceram ao encontro do Gias, levando pautas, artesanatos e alimentos. Os povos Chiquitano e Canela também fizeram pinturas na pele de outros participantes com tinta natural feita de jenipapo. Muitas falas ressaltaram que a agroecologia tem possibilitado a permanência desses povos em seus territórios tradicionais.
[1] Gilka Resende, da FASE, Andrés Pasquis, do Gias, e Elvis Marques, da CPT, com a colaboração de Wellington Douglas, também da CPT.