15/10/2021 08:57
Alcindo Batista¹
O fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia são estratégias fundamentais para a resistência e a reprodução social em defesa do território de comunidades agroextrativistas em todo o país. Diante disso, o programa FASE na Amazônia realizou uma série de oficinas de capacitação voltadas para implantação de sistemas agroflorestais e hortas agroecológicas com moradores do Assentamento Agroextrativista PAE Lago Grande, no Pará. As ações aconteceram através do projeto Amazônia Agroecológica², que também tem como objetivo promover a implantação de iniciativas agroecológicas como quintais produtivos, viveiros de mudas e apoio aos circuitos de comercialização, além de gerar renda às comunidades para recuperação e conservação da floresta.
Samis Vieira, educador da FASE na Amazônia, conta que as comunidades do PAE têm uma forte relação com o território local (floresta, água, caça, extrativismo), diferentemente dos grandes empreendimentos, que só enxergam o lucro. Para ele, “não tem como pensar em agroecologia sem dialogar com a defesa do território”. Também participaram das ações a Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém (STTR).
O PAE compreende uma área de 250.344 hectares, onde vivem cerca de 30 mil pessoas (6.600 famílias), que constituem cerca de 144 comunidades agroextrativistas. Passados mais 15 anos desde a sua criação, ainda não foi concluído o processo de regularização fundiária e assinado o Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU), que garante o acesso as políticas públicas como Assessoria Técnica e Extensão Rural (ATER) e Crédito Agrícola (tornando o assentamento vulnerável à exploração ilegal de madeira, pesca predatória, grilagem de terra e, mais recentemente, à mineração).
Agroecologia como alternativa
Reconhecer, visibilizar e fortalecer a reprodução das práticas agroextrativistas é essencial para a manutenção da qualidade de vida dos moradores no território. Por conta disso, o principal objetivo dos encontros foi criar um espaço rico de troca de saberes, debates e reflexões entre agricultores e agricultoras familiares sobre os seus modos de cultivar a terra e enriquecer ainda mais seus saberes, por meio de alternativas agroecológicas para melhoria dos sistemas agrícolas, com estímulo à diversificação produtiva, o uso sustentável do solo e a garantia da segurança alimentar das famílias agroextrativista.
A metodologia de capacitação teve como eixo estratégico o trabalho com educação popular, dialogando com o conhecimento tradicional baseado na integração de cursos de capacitação, assessoria mensal, intercâmbios entre agricultores familiares e a implantação de iniciativas agroecológicas através da formação de multiplicadores em agroecologia para ampliação das áreas.
Como resultado, neste período foram implantadas 12 iniciativas agroecológicas (oito sistemas agroflorestais e quatro hortas agroecológicas, distribuídas em 12 comunidades agroextrativistas – Bom Futuro, São Francisco, Curi, Engenho, Nazário, Bom Jardim, Terra Preta dos Viana, Cabeceira do Ouro, Traíra 03, São Geraldo, Castanhalzinho e Cabeceira do Marco). Cada implantação de área teve duração de três dias e combinou teoria e prática.
Para Ivair Silva, morador de Nazário, fazer agricultura sem o uso do fogo foi a questão mais sensível. “Hoje, você voltar na área e ver a banana e a macaxeira plantada, sem queimar, e saber que no futuro aquela será uma área diversificada, enche nosso coração de esperança”. Enilza Tavares, de São Geraldo, comemora que “em menos de dois meses, estamos comercializando a produção. Tem sido um espaço muito rico de aprendizados”.
[1] Estagiário, sob supervisão de Claudio Nogueira
[2]