13/06/2022 14:48

*Luciano Padrão

Nas últimas décadas, a FASE se consolidou como uma organização de referência da sociedade civil brasileira, com crescimento da densidade de sua atuação dentro dos territórios em que atua, em processos regionais e incidência nacional. Ao celebrar 60 anos, a instituição enfrentou um dos seus grandes desafios de gestão: conduzir, em caráter formativo, uma avaliação de impacto de sua intervenção tomando como referência um extenso marco temporal de 10 anos (2011-2020).

Avaliação dos Impactos – 10 anos (2011-2020) / Reprodução

Um exercício de identificação de efeitos potencialmente transformadores da intervenção, que considera um período que ultrapassa os marcos de seus planejamentos e projetos, indo além de olhar apenas para metas e resultados de curto-médio prazo. O objetivo do trabalho pode ser resumido em implementar uma autoavaliação dos impactos no cumprimento de sua missão institucional, a relevância das conquistas e a qualidade das estratégias de trabalho. A implementação da avaliação foi possível por meio do projeto BUILD, da Fundação Ford, e o resultado pode ser lido em Avaliação dos Impactos 10 anos (2011-2020).

Apesar de bem-sucedido na sua condução e resultados, este trabalho lidou com desafios. Sem dúvida, o mais importante é o próprio contexto político-institucional coberto pela avaliação em que o estudo foi desenvolvido. No plano nacional, 2019 marca o início de um período de intensificação de retrocessos, iniciados em meados da década passada, em que feitos e conquistas da FASE ao longo de anos estavam sendo ameaçados. A extinção de políticas e espaços de participação, aumento da violência nos territórios rurais e urbanos, crescimento dos conservadorismos e indefinições sobre os rumos da democracia eram processos que atingiam o centro da intervenção da FASE. Este parecia não ser um momento promissor e oportuno para um estudo de impacto.

Paralelamente, sabia-se que a década de 2011 – 2020 envolveu contextos especialmente turbulentos, com rupturas e pontuado por períodos muito distintos no plano político-institucional e socioeconômico. Dado seu caráter formativo, o exercício de avaliar o impacto era também uma oportunidade para que integrantes da FASE refletissem sobre questões importantes quanto ao papel das organizações da sociedade civil em um contexto de retrocessos, mudanças e imprevisibilidade: que mudanças importantes nos contextos foram devidamente consideradas? Em que medida a equipe identificou oportunidades em um ambiente de adversidades? Quais as escolhas orientaram os planos de ação? Que efeitos relevantes de longo prazo foram gerados? Ainda que de modo diferenciado, os estudos dão respostas satisfatórias a questões como essas.

O que aprendemos?

A partir desse olhar mais atento para as ações realizadas, foi possível mapear e apontar para o futuro. Quando separamos os aprendizados entre as causas em que a FASE atua, percebemos que, em relação à justiça ambiental e climática, por exemplo, é importante articular conservação da floresta e da biodiversidade, garantindo direitos socioterritoriais e a soberania e segurança alimentar e nutricional, e investir em formação popular permanente sobre temas tão complexos. A experiência do Fundo Dema comprova que iniciativas de enfrentamento à degradação ambiental são exitosas quando promovem o protagonismo das comunidades locais.

Seminário de lançamento do Estudo de impacto. Foto: José Guilherme Carvalho / FASE

Com as mudanças na conjuntura, processos que pareciam consolidados em sua visão crítica e massificada, mudam quando não há regularidade na formação, frente à atuação do setor corporativo, com amplo domínio sobre a comunicação. Nesse sentido, é fundamental pensar em como fortalecer os vínculos com distintos setores e investir na autonomia da sociedade civil. São grandes as dificuldades para ampliar as alianças com organizações mais sensíveis à crítica contra-hegemônica, onde no debate ambiental há uma correlação de forças desfavorável em relação às lógicas de mercado, que estão no seio do debate sobre modelo de desenvolvimento.

As crises institucionais vividas no Brasil desde 2015, as mudanças em marcos legais socioambientais, as distintas crises econômicas e a eleição de um governo de extrema direita, contribuíram para grandes retrocessos. Com a pandemia da Covid, houve um agravamento desse quadro.

A FASE se propõe pensar o debate, refletindo criticamente sobre as propostas apresentadas e trazendo as distintas contribuições nacionais e suas unidades para influenciar sobre recuperação pós-Covid19 e a reconstrução do Brasil em temas como: clima, desmatamento, petróleo, mineração, bens comuns, cidades, justiça ambiental, racismo ambiental, dentre outros.

*Consultor da FASE que facilitou o processo de avaliação dos 10 anos de ações. O  artigo foi elaborado a partir das informações publicadas no documento Avaliação dos Impactos 10 anos.