14/03/2023 18:15
*Paula Schitine
“Os desastres climáticos no Rio de Janeiro têm CPF e têm cor”, essa foi a chamada para o ato da Greve Global pelo Clima que acontece todos os dias 03 de março. Desde vez, foi realizado nas comunidades do Jacarezinho e Manguinhos, na zona Norte da capital fluminense. Com o tema “Chega de enchentes”, o ato destaca as consequências da emergência climática nas favelas cariocas.
O protesto é organizado por diversas entidades e coletivos. No Rio, a atividade é organizada pela Coalizão Pelo Clima, Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, FASE, entre outras entidades.
A concentração para o ato aconteceu na quadra da escola de samba Unidos do Jacarezinho, e de lá, os participantes caminharam até a comunidade vizinha, Manguinhos, registrando a situação nos territórios e ouvindo os moradores sobre os impactos das enchentes. Ativistas, pesquisadores, parlamentares e moradores acompanharam o trajeto às margens do rio Jacaré, que em tempos de chuva enche e invade ruas e casas trazendo destruição e muijtos prejuízos.
A geógrafa Geane Ferreira, do Observatório da Bacia Hidrográfica do Canal do Cunha, diz que os deslizamentos e enchentes que acontecem nas comunidades são resultado da montante da Bacia Hidrográfica. “É preciso tratar o saneamento de toda a região que margeia o rio. O problema maior é a quantidade de lixo que fica em várias partes da bacia e que precisa ser dragado ao longo do ano e não somente quando enche”, explica ela.
A trabalhadora doméstica, Maria Aparecida Macedo da Silva, moradora de Manguinhos conta que desde a última chuva de fevereiro, corre risco de vida porque as casas ao redor foram interditadas, mas a dela não. “Meu filho de nove anos fica em casa e eu falo pra ele qualquer correr, gritar,isso se der tempo”, denuncia.
Participação da FASE
O coordenador da FASe-RJ, Aercio Barbosa de Oliveira**, presente do evento, explica a ligação da FASE com o evento. “A FASE já vem atuando nessa questão da justiça ambiental com uma forte crítica ao modelo de desenvlvimento econômico e acompanha também as pautas sobre clima”, explica. Ele fala sobre a importância da realização da Greve Global pelo Clima em comunidaeds do Rio. “Isso aumenta a importância de se olhar os sujeitos dos territórios afetados pela falta de políticas públicas e a inação do Estado. Fica clara a omissão do Poder Público nesses territórios onde a presença maior é da população negra e favelada”, aponta.
Depois da atividade, foi entregue ma carta-manifesto à pPrefeitura do Rio cobrando ações preventivas contra enchentes.
“A cidade do Rio de Janeiro está completamente vulnerabilizada diante dos eventos extremos, em especial as comunidades de baixa renda. O racismo ambiental produz drama e tragédia principalmente, entre pessoas pretas, mulheres e crianças que vivem nos territórios mais expostos aos efeitos provocados pelas mudanças climáticas”, enfatiza o texto da carta.
O documento também questiona o poder público municipal sobre políticas públicas que precisam sair do papel, obras de reconstrução e gestão de risco diante de desastres como ocorreu nas chuvas de 5 a 11 de fevereiro, que causaram mortes e deslizamentos de encosta.
Por fim, a carta solicita uma audiência pública com a Secretaria Municipal de Ambiente e Clima e destaca seis pontos de reivindicação como saneamento, dragagem de rios e canais, proteção de encostas, e respostas sobre o relatório da CPI das Enchentes de 2019 com mais de 100 recomendações.
Para encerrar o ato, o morador de Manguinhos e integrante da Comissão de Meio Ambiente da comunidade falou sobre a negligência proposital dos governos Municipal e Estadual. “No reveillón, foram depositados mais de 892 toneladas de lixo nas praias e no dia seguinte, às 10h da manhã todos os residudos tinham sido retirados pela Comlurb. Não é falta de dinheiro, é falta de interesse e descaso com as periferias”, denuncia Fabio Monteiro.
*Paula Schitine é jornalista da comunicação da FASE