Marina Malheiro
09/10/2023 09:00
As comunidades quilombolas do Chumbo e Jejum, na Baixada Cuiabana, com apoio da FASE Mato Grosso, CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas em Mato Grosso) e o NEAST/UFMT (Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador), e Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) realizaram a oficina de Vigilância Popular em Saúde.
O avanço do agronegócio e da mineração sobre o Pantanal tem ameaçado esses territórios, seus habitantes, com suas culturas, tradições, ancestralidades e a natureza. A coragem de enfrentar esses desafios e a luta por uma reforma agrária popular é o que mobiliza o movimento quilombola, que busca a garantia da soberania alimentar, a proteção da água, justiça e a agroecologia para cuidar e proteger a vida da mãe terra e para as gerações futuras.
Em 2021, as organizações FASE, CONAQ, e o Neast/UFMT elaboraram o relatório “Agrotóxicos no Pantanal” , sobre os impactos desses venenos sobre o bioma. Fran Paula, educadora da FASE Mato Grosso, e uma das autoras desta pesquisa, contribuiu com a oficina junto com o educador Leonel Wohlfahrt.
“É importante frisar como os agrotóxicos têm gerado vários impactos na saúde do pantanal e na saúde também dos povos do pantanal. Então na oficina foi possível reunir profissionais da Rede pública de saúde de Poconé, do Conselho Estadual e Nacional de Saúde, O Ministério da Saúde também esteve presente para entender a realidade desses territórios.”, conta a educadora.
A FASE-MT atua nesses territórios com atividades de apoio à agroecologia e incentivos à conservação dos bens naturais. Com esse estudo detectaram a presença de vários agrotóxicos nas águas da chuva, dos lençóis freáticos, dos poços artesianos e outros, ressaltando assim o processo de adoecimento da população cujos terrenos estão cercados por fazendas, cultivos de soja e mineração.
Jusiane Lima, Quilombola do Chumbo e Jejum, também contou sobre a importância da oficina nos territórios. “Falar desse tema com o nosso povo é de fundamental importância, com o intuito de conscientizar e orientar em relação a causa e o que isso nos traz. São doenças que a longo prazo podem trazer sérios problemas à saúde e também é uma forma de direcionar as equipes de saúde sobre os possíveis sintomas por esses agrotóxicos”, destaca.
A partir dessa pesquisa foi formalizado um processo de investigação junto ao Ministério Público do Trabalho e ao Fórum de Combate Agrotóxicos do Mato Grosso que também marcou presença na atividade.
“Foi um momento importante para alinhar e refletir sobre a relevância de planos territoriais e municipais para garantir a vigilância e saúde desses territórios, então foi importante o diálogo entre a sociedade civil e o poder público, com uma presença massiva das comunidades quilombolas do município.” acrescenta, Fran Paula.
“Toda essa ação que estamos construindo ao longo desses anos vai gerar um guia nacional de vigilância popular em saúde lançado pelo Ministério da Saúde e que foi validado e construído pelas comunidades e territórios, uma metodologia participativa de se construir políticas públicas no país”, comemora a educadora.
“Foi uma oportunidade importante para todos nós, todos os parceiros que nos apoiaram como a FASE, Fiocruz, Ministério da Saúde, nos deram força para mencionar um problema que incomoda e que está aqui presente nas nossas terras. Então o que mais nos deu motivação foi o suporte de todas essas organizações.” conclui Jusiane.
*Estagiária da Comunicação, sob supervisão de Paula Schitine