Marina Malheiro
23/10/2023 09:00
O curso de extensão complementar “Mudanças Climáticas e Direito à Água na metrópole do Rio de Janeiro” realizado em parceria com o Núcleo Rio de Janeiro do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, a Rede de Vigilância Popular em Saneamento e Saúde, e a Faculdade de Serviço Social da UERJ teve início na última segunda-feira (16). Ao longo de dez aulas, os participantes vão debater o direito à água e saneamento básico em relação às mudanças climáticas, a partir das nuances históricas e das atualidades do cotidiano da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Segundo o coordenador da FASE Rio, Aercio B. de Oliveira, que estava presente na aula inaugural, as Mudanças Climáticas (MC) têm adquirido grande espaço nos veículos de comunicação, nas agendas dos movimentos sociais, no entanto, especialmente os eventos extremos, precisam ser debatidos para mobilizar as diferentes mobilizações urbanas: “A questão fundiária urbana, o direito à moradia digna, a qualidade da infraestrutura urbana, dos bens e serviços públicos devem ser abordados em direta conexão com o clima”,
argumenta. “O risco maior de sofrer os impactos dos eventos extremos fica para quem vive em áreas de encostas e em áreas de várzeas sujeitas a inundações e alagamentos”.
O curso é destinado a 35 estudantes de serviço social, militantes e ativistas, que destacaram a importância dos temas para seus territórios. “Sou mulher, negra e periférica, e em pleno século 21, ainda sofro na pele o racismo e preconceito que vivo sem ter saneamento básico. O acesso à água potável chegou até a minha casa há cerca de 5 anos, embora seja vizinha da maior rede de tratamento de água e esgoto, a ETA Guandu.” confirma Marcia Souza, assistente social e aluna do curso. “Na falta de água e saneamento básico, transborda o racismo e o preconceito. Somos mais de 40 milhões de brasileiros que sofremos com a violência de estado e municípios, pois não temos o nosso direito garantido, embora seja assegurado pela Constituição. Como parte dessa estatística sigo resistente na luta pela igualdade de direitos e acesso aos bens que deveriam ser comuns a todos.”
Privatização e bens comuns
No contexto do Rio de Janeiro, com a privatização da Cedae em 2021 e os problemas decorrentes da privatização nos anos seguintes, cresceu o interesse da professora de Serviço Social da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Caroline Rodrigues, de democratizar o debate. Para Caroline, que também é coordenadora do curso, é importante que as pessoas tenham conhecimento dos riscos que estão correndo sem o direito à água, no modelo privatizado de abastecimento.
“No campo dos estudos urbanos de modo geral não se faz essa relação entre modelo de desenvolvimento e mudanças climáticas, a gente às vezes estuda habitação, saneamento, regularização fundiária, moradia, tudo separado da questão ambiental e climática.” ressalta. “Nosso modelo de ocupação hoje é um dos fatores determinantes dos problemas climáticos, que têm relação com a produção das cidades e achamos importante que alunos do Serviço Social, assim como militantes e ativistas, estudem as duas coisas juntas, produção de cidade junto com mudanças climáticas” complementa a professora.
Caroline destaca ainda que, para ter uma educação mais democrática e tornar a Universidade mais diversa, é preciso criar instrumentos como o curso de extensão, para que as pessoas que não estejam matriculadas venham até a faculdade – e para pessoas que já conseguiram acessar, conheçam as questões territoriais e sociais. “Ter essa troca entre estudante, militante e ativista é relevante para que a Universidade se torne um local mais diverso”.
O desejo da professora vai ao encontro do que esperam os alunos do curso: “Minha expectativa é conhecer mais sobre como as mudanças climáticas mexem no nosso planeta e quais alternativas podemos fazer para pensar em políticas públicas e também fortalecer movimentos sociais da pauta” declara, Thamiris Catão, estudante de Serviço Social.
*Estagiária da Comunicação, sob supervisão de Paula Schitine