Pedro Martins, Yuri Rodrigues e Guilherme Correa
07/05/2024 18:00

Educadores da FASE estiveram reunidos entre os dias 03 a 05 de maio com mais de 40 lideranças quilombolas e agroextrativistas no Território Quilombola Laranjituba e África, no município de Abaetetuba, para debater a defesa dos territórios. Com o tema “Resistência nos territórios: lutas contra as estratégias de avanço do agronegócio sobre nossas vidas”, o Seminário contou com a participação de representantes de organizações da região do Tapajós, no Oeste do Pará, de grupos de pesquisa da Universidade Federal do Pará (UFPA) e de representante da Defensoria Pública do Estado do Pará.

Organizado pela FASE Amazônia e a Frente de Defesa dos Territórios – uma articulação de diferentes territórios no Baixo Tocantins – , o Seminário foi pensado a partir da preocupação com o avanço dos monocultivos de dendê e com os projetos de infraestrutura e logística do agronegócio, tendo como principal ameaça a construção do Porto da Cargill em Abaetetuba. Para Vavá, liderança do Território Laranjituba e África, o Seminário foi importante para fortalecer a luta pelo território. “Laranjituba e África sempre foi sinônimo de resistência, e o Seminário vem trazer visibilidade para nossas lutas, nossas batalhas e também nossas vitórias. Não temos só a denunciar, mas também a anunciar. E isso é de suma importâncianão só para Laranjituba e África, mas também para os outros territórios”, explica Vavá.

O agronegócio significa perda de floresta, contaminação de rios e igarapés por agrotóxicos, poluição do ar e limitação à segurança e soberania alimentar e nutricional dos povos da Amazônia. Para Sileuza Nascimento, do Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais (STTR) de Mojuí dos Campos, o agrotóxico é uma das maiores violências do agronegócio contra nossas vidas. “A gente vê o tamanho do desastre que está em nossa região, mas em todos os territórios, onde o agronegócio está chegando e está acabando não só com o nosso meio ambiente, mas com o nosso bem viver, da nossa vida, e da nossa cultura”, relata Sileuza.

Frente ao avanço do agronegócio sobre a Amazônia e em particular à ameaça de construção do Porto da Cargill, as participantes destacaram o Protocolo de Consulta como instrumento valioso de defesa territorial. Clea, do Quilombo Bom Remédio, explica o Protocolo de Consulta. “Dentro do protocolo existe a lei que a própria comunidade colocou. É a comunidade que deve dizer o momento em que ela deve ser consultada. O importante é respeitar o que agente colocou no nosso protocolo” afirma Clea, cujo território está localizado em Abaetetuba.

O porto da Cargill é uma proposta que vem trazendo muitas preocupações às comunidades. Como parte do corredor logístico do Arco Norte, o projeto de Terminal de Uso Privado da empresa Cargill SA seria uma aposta empresarial para garantir competitividade no escoamento de grãos do Centro Oeste brasileiro para o mundo, contando com os portos da Cargill já instalados em Itaituba e Santarém para o transporte de soja e milho. A infraestrutura é composta por rodovias e pelo projeto ferroviário denominado de “Ferrogrão”. Para Jarcilene Batista, agricultora do município de Trairão, localizado no MédioTapajós, no Eixo da BR 163, o Seminário permitiu vivenciar o que os territórios de Abaetetuba sentem com a ameaça de instalação da Cargill. “O avanço do agronegócio ameaça o nosso povo e nesse movimento estamos todos interligados. E fazer a resistência é garantir o futuro das próximas gerações” nos contou Jarcilene.

Lideranças de Barcarena, Igarapé Miri e Concórdia do Pará também estiveram presentes e contribuíram com denúncias e anúncios sobre as empresas mineradoras que atuam na expropriação de terras tradicionalmente ocupadas. Em todos os lugares, as mulheres protagonizam a defesa dos territórios, e no Seminário não foi diferente. As mulheres estiveram não só como participantes, mas todas as mesas de debate foram compostas  100% por mulheres. Na programação do Seminário houve um momento específico para as lideranças femininas apresentarem os anúncios de ações de sucesso nos territórios. “Em relação à defesa dos territórios, o protagonismo das mulheres é latente. A participação delas em termos de consciência política sobre a defesa dos territórios é fundamental. São elas que trazem a preocupação com as águas, com a produção agroecológica, com a pesca e proteção dos saberes e modos organizativos. São elas que estão na linha de frente dos processos de defesa dos territórios.” explica Sara Pereira, coordenadora da FASE Amazônia.

O Seminário foi um espaço de compartilhamento de experiência com uma perspectiva de intercâmbio com o Baixo Amazonas. As empresas, como a Cargill, que foi muito citada, têm o mesmo modus operandi como o assédio às comunidades, causando a desunião entre elas e provocando divisões entre moradoras e moradores. “Essas empresas chegam de maneira articulada com setores da economia. Por outro lado, foi importante ver que por parte dos movimentos existem anúncios das diversas frentes de coalizão dos territórios, e o Baixo Tocantins tem a Frente de Defesa dos Territórios com a potencialidade de articular as iniciativas de resistência”, explica Sara Pereira

*Educadores da FASE Amazônia