João Gomes
19/09/2024 15:38
No próximo dia 06 de outubro vamos eleger prefeitas, prefeitos, vereadoras e vereadores que irão governar até o final do ano de 2028 mais de 5.000 cidades em todo país. Serão 04 anos que poderão mudar para melhor ou para pior as nossas vidas nas cidades, nas florestas, nos rios e nos campos
É nossa responsabilidade escolher as melhores candidaturas que irão assumir os cargos de prefeito e de legisladores em nossas cidades. Mas o que devemos considerar na hora de escolher as candidatas e candidatos e seus partidos?
Vamos começar nossa conversa olhando para a realidade do nosso querido Brasil. Dos 193 países existentes, o Brasil é o oitavo mais rico. Estamos na frente do Canadá, da Itália, do México, da Rússia e tantos outros. Aí você se pergunta: onde está toda essa riqueza, se o que vemos em nossas cidades são favelas, pessoas residindo em habitações precárias, falta de saneamento básico, péssimo atendimento de saúde, escolas sucateadas, professoras mal pagas, 6 milhões de pessoas sem casa própria e milhares morando nas ruas?
Apesar de o Brasil ser tão rico, somos o 14º mais desigual de todo planeta, perdendo para os outros 179 países. A riqueza da nossa nação pertence a todos nós, brasileiros e brasileiras, afinal ela é produzida pelo uso das nossas terras, pela venda de nosso petróleo, do gás, dos minérios, pelos impostos que pagamos e, principalmente pelo trabalho duro e diário de milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Acontece que ao longo da nossa história, essa riqueza tem ficado nas contas bancárias e no patrimônio material de uma minoria de homens brancos e ricos. No Brasil, o 1% mais rico ganha 72 vezes mais que os 50% mais pobres. E os mais pobres são mulheres, pessoas negras, moradoras de periferia sem acesso a saneamento básico, educação de qualidade, transporte e atendimento de saúde digno e eficiente, e na sua grande maioria sem acesso a alimentos suficientes e saudáveis.
E como explicar essa desigualdade no Brasil e o que isso tem a ver com as eleições? É exatamente sobre isso que queremos falar. A pobreza de muitos e a riqueza de poucos não é algo natural, isso foi e está sendo construído desde que os europeus, mas precisamente os portugueses, chegaram por aqui atrás de riquezas. Escravizaram os nossos ancestrais, acumularam em busca principalmente do poder político. Eles tomaram o poder, se armaram, cercaram, tomaram e continuam tomando as terras dos indígenas, dos quilombolas, e ainda desmatam, ateiam fogo, poluem nossos rios, igarapés e derrubam a nossa floresta. Tudo isso foi e continua sendo feito com meios violentos, com assassinatos de indígenas, quilombolas, mulheres e jovens das periferias urbanas e das comunidades rurais.
Se apropriam e exploram petróleo, minérios e as terras para o agronegócio. Com muito dinheiro e poder, estão no comando das instituições policiais e forças armadas, do parlamento e sistema judiciário. As leis que fazem lhes são favoráveis e duras com os trabalhadores e trabalhadoras. Os mais ricos pagam menos impostos e ainda recebem maior parte dos recursos públicos para subsidiar os seus negócios.
Pior, durante maior parte da nossa história, proibiam que pobres, mulheres, e pessoas não alfabetizadas votassem. Assim, eles e os seus descendentes ocuparam e continuam ocupando os cargos públicos, entre os quais o de juízes, prefeitos, vereadores, governadores, deputados e senadores. Afinal, precisam estar no poder por gerações para manter o sistema de espoliação das riquezas e exploração das classes trabalhadoras.
Poder participar das eleições e escolher os governos nem sempre foi possível para a maioria do povo, são vários episódios em que tomaram o poder e governaram sem a participação do povo. Vamos lembrar do governo autoritário de 1964 a 1989, período em que as forças armadas impuseram uma ditadura no país. Lembremos do golpe dado na presidenta Dilma, em 2016, quando foi retirada do poder num processo totalmente manipulado pelas forças do capital, e mais recente a tentativa de golpe no dia 08 de janeiro de 2023 quando grupos de extrema-direita, liderados pelos bolsonaristas, invadiram a sede dos três poderes pedindo golpe militar e o fim da democracia.
A acumulação do poder desses grupos começa no seu bairro, na sua comunidade, nas câmaras municipais, nas prefeituras. Portanto, não podemos desperdiçar de maneira alguma o nosso voto, pois ainda há uma grande possibilidade de elegermos pessoas verdadeiramente comprometidas com as nossas lutas por justiça socioambiental, agroecologia, regularização fundiária e acesso às políticas sociais. E que possam garantir a biodiversidade, a segurança e a vida digna, políticas afirmativas para mulheres, juventude, trabalhadores rurais e do mercado informal, para pessoas com deficiência, população LGBTQUIA+, demarcação e devolução das terras indígenas, quilombolas e dos agroextrativistas.
Saber escolher aqueles e aquelas que de faro estão nessa luta com a gente, eleger mulheres das periferias, trabalhadoras, lideranças de comunidades, de sindicatos de trabalhadores e rurais, negras, quilombolas, ribeirinhas, é preciso! Pesquise sobre a história do candidato ou candidata, o que tem feito na vida. Recuse-se a votar naqueles que tentam comprar voto em troca de qualquer coisa, seja uma rua asfaltada, aterrada, acesso à casa própria, ou até dinheiro. Vamos ficar de olhos e ouvidos bem abertos antes de votar. Cuidado bastante com os negacionistas da vacina, que fazem discursos de ódio contra negros, pobres, mulheres, indígenas e migrantes.
Vamos votar nas candidatas e candidatos que sempre apoiaram as nossas lutas!
*Coordenador Adjunto FASE Amazônia