Maria Rita
30/09/2024 15:41
Na busca por soluções que aliem produção de alimentos e preservação ambiental, as agricultoras e agricultores das comunidades P.A Laranjeira I e II, Mata Comprida e Ipê Roxo, no município de Cáceres (MT), têm encontrado na agroecologia bons ventos. Em parceria com as educadoras e educadores populares da FASE, as beneficiárias do projeto “Quintais Produtivos para Recuperação de Áreas Degradadas em Mato Grosso” têm participado ativamente do processo de construção do conhecimento agroecológico, experimentando diferentes técnicas nas propriedades rurais que podem representar caminhos para produção, mesmo em tempos tão difíceis de seca extrema e queimadas devastadoras que assolam a região.
Uma dessas práticas é vista na propriedade da agricultora Odete Batista de Araújo, que utiliza resíduos do biodigestor, compostos principalmente de esterco bovino curtido, para adubar e proteger o solo. Esse método ajuda a manter a umidade do solo e a fertilidade, elementos essenciais para garantir a produção. Além disso, Odete também cria abelhas próximas à mata nativa, e esse ano espera colher boas quantidades de mel. No entanto, as queimadas que atingem a região ameaçam a colheita, destruindo as árvores nativas que fornecem as floradas para as abelhas.
A agrofloresta sucessional
Outra estratégia praticada são os sistemas agroflorestais, técnicas de plantio que integram árvores nativas e frutíferas com culturas de curto e médio prazo – além de plantas medicinais, melíferas, forragem, etc – estão ajudando a recuperar áreas degradadas.
O agricultor Ademar Carvalho Silva é um exemplo de quem tem colocado em prática a união entre árvores e produção agrícola. Para ele, quanto mais diversidade no plantio, menor a chance de as pragas afetarem a produção. Ademar segue o princípio de sempre acumular matéria orgânica para tentar manter o solo saudável e produtivo, mesmo em tempos de seca.
As queimadas, que chegaram até a propriedade vizinha de Ademar e devastaram boa parte da vegetação nativa, são um sinal claro da urgência em agir. “Isso que aconteceu é a natureza falando com a gente. Talvez seja tarde, mas mesmo assim vou fazer minha parte, porque sei que é daqui que a gente respira e é daqui que sai nossa água”, reflete Ademar.
A educadora popular da FASE, Mariana Santiago, reforça a importância das árvores para a produção de alimentos e garantia de segurança e soberania alimentar: “Agora o único jeito de produzir comida é com as árvores. Elas dão sombra, protegem as mudas. E o solo precisa estar sempre coberto para manter a umidade.”
Ademar também explica na prática o princípio da agrofloresta sucessional e dos manejos agroecológicos, como o exemplo da cobertura do solo: “Agora eu tô juntando matéria orgânica sempre, quanto mais melhor. Agora tá bonito mas podia estar melhor, nunca vi uma seca igual a desse ano. Com o projeto da FASE, a gente continua estudando bastante. Pra nós é um sonho, e estamos conseguindo realizar com muita luta. A ideia é plantar água. Daqui um tempo, quando as árvores já estiverem estratificadas e já estiverem produzindo bons frutos, vou juntar o gado e eles também vão ter mais conforto. A horta também está seguindo o princípio da estratificação, e aos poucos vamos acumulando matéria”.
*Comunicadora da FASE MT