24/06/2006 12:20
É este o peso da Carta Política do 2º Encontro Nacional de Agroecologia. Esta importância política não vem à toa. Trata-se de um texto que sintetiza o estado atual da evolução de um novo modelo de produção de alimentos para o Brasil. Um modelo que não está pronto e acabado, mas que aponta alternativas à produção de alimentos em escala industrial visando a exportação. A agroecologia prima pela produção de alimentos sem agrotóxicos, pela diversificação da produção, pelo uso dos saberes tradicionais e pela necessidade de garantir a soberania alimentar do povo.
A agroecologia surge no cenário da agricultura brasileira inserida em um grande conflito de escala global. Ao propor a produção de alimentos diversificada com respeito à cultura alimentar dos povos, a agroecologia se coloca em confronto com o conjunto de indústrias multinacionais de alimentos. Estas grandes corporações querem padronizar o consumo de alimentos no planeta impondo sementes padronizadas cujas patentes apenas elas detêm; querem controlar todos os fluxos comerciais de alimentos; querem fazer do alimento (e portanto da terra e da água) uma mercadoria cotada no mercado internacional da mesma forma que o petróleo. Por fim, estas grandes corporações querem determinar que país produzirá o que, mapeando uma nova divisão internacional do trabalho agrícola.
Isso significaria a morte da independência dos povos para escolher seu padrão alimentar. Para os agricultores, significaria a perda da terra e do acesso à água, pois apenas os grandes latifundiários participariam do grande esquema de produção. Para o meio ambiente, significaria um desastre, pois haveria a perda de grande parte da biodiversidade e a substituição de áreas verdes por grandes monoculturas (o que já vem ocorrendo). Por isso, pode-se dizer que a luta de pequenos agricultores brasileiros organizados em associações, sindicatos e movimentos que compõem a Articulação Nacional de Agroecologia é uma luta de importância mundial. Daí porque vale a pena ler a Carta Política do 2º Encontro Nacional de Agroecologia, um encontro em que 1.700 agricultores estiveram juntos em Recife de 2 a 6 de junho deste ano.