22/11/2012 16:24
Através das telas e lentes de celulares, três câmeras fotográficas profissionais e três câmeras simples, 28 jovens de Belém observaram e registraram detalhes do tradicional mercado Ver o Peso, no centro da capital paraense. São 18 mulheres e 10 homens, todos participantes do projeto Juventude, Direito à Cidade e Justiça Ambiental desde maio. Os encontros, ou módulos, como chamam, acontecem uma vez por mês. “Essa oficina tratou-se de uma atividade intermodular para aprofundar a temática gênero e direito à cidade”, conta a educadora Aldebaran Moura, da FASE Amazônia, que acompanhou os jovens.
Após as fotos, o grupo se reuniu no mesmo dia 27 de outubro, no Fórum Landi, perto do mercado, onde refletiram sobre cenas cotidianas que puderam registrar. Observaram as marcas de certas relações de gênero, mas também descobriram exceções, como contou Aldebaran. Por exemplo: os homens vendiam pescados e as mulheres ervas. Mas algumas vendiam camarões, e havia mulheres policiais. Elas também se destacavam expressando a fé, como sacerdotisas, em contraste com sua falta de espaço no clero católico. O gênero também estava marcado nas tatuagens, que eram principalmente de nomes de pessoas: nos homens, nomes da mãe; e nas mulheres, nomes de filhos e netos.
A educadora relatou que a diversidade de cenas marcou a oficina. Vendiam-se peixes e livros. Havia intervenções verbais, como placas e cartazes sobre voto e fumo, além de protestos e reflexões. Algumas mulheres resistiam em tirar fotos, outras se arrumavam para o clique. Era um ambiente de música e de alegria. Muitos no mercado tinham receio em aparecer nas fotos exercendo atividades não legalizadas. Os jovens puderam refletir também sobre o processo de participação política daquelas pessoas, através da associação de feirantes.
Ao final,concluiram que “o Ver o Peso é mais feminino do que masculino. É um lugar de afirmação das mulheres, os homens servem de suporte”, diz Aldebaran.
O rico, o pobre, o feio, o bonito
Luciano Santos, de 18 anos, foi um dos participantes da oficina. Ele conta que sempre foi interessado em fotografia, mas nunca tinha participado de uma oficina. E já era frequentador do Ver o Peso, onde sua mãe e sua tia trabalham, mas essa foi a primeira vez em que reparou nas “misturas” do local. “É uma diversidade muito grande de culturas, de gostos, de cheiro, sexualidade. Tem o rico, o pobre, o feio, o bonito”, ele conta. Dentre as fotos que tirou, a favorita é uma que mostra chocalhos indígenas, chocalhos do candomblé e terços cristãos sendo vendidos juntos. Para ele, a oficina foi ideal para esse programa de formação, onde estudam gênero e conflitos sociais.
As fotos foram expostas pela primeira vez no sábado, 17 de novembro, no mesmo mercado Ver o Peso. As melhores imagens também serão expostas no encontro de parceiros de AIN, que apoia o projeto Juventude, Direito à Cidade e Justiça Ambiental, no final de novembro no Recife. Também farão parte da exposição o resultado de uma oficina semelhante à de Belém realizada com jovens do Rio de Janeiro e um vídeo preparado pelos participantes do projeto na capital pernambucana.