11/07/2013 15:17
Por Thaianne Coelho, da FASE
“Papo com Chibé”. Foi assim, num convite informal para conversar e comer esse prato típico regional que a FASE reuniu um grupo de 40 jovens na sexta-feira (29), na sede da FASE Amazônia em Belém (PA) para o debate “A revolta dos 20 centavos”. Antes da conversa teve banho de cheiro e cantoria embalada pela música nova do Tom Zé, inspirada nas manifestações recentes (que a jovem da foto nos mostra).
“Fizemos o debate em meio às manifestações [que tomaram as ruas do Brasil em junho]. No mesmo dia, pela manhã, aconteceu a passeata pelo orgulho LGBT e no sábado, dia seguinte, a Marcha das Vadias. Os dois foram temas tratados no debate. É importante não deixar o momento de grandes manifestações passar sem pensarmos sobre seu significado”, explica Aldebaran Moura, educadora da FASE Amazônia, comentando que o Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense também compareceu já que a Marcha das Vadias estava nas ruas.
“É importante trazer momentos de reflexão como esse para que a discussão não se perca. O que eu vejo hoje é um engajamento muito forte da população de Belém. A cultura da praça na cidade sempre existiu. Mas agora trazemos o tema político e social para a discussão e isso é muito bom. Na Praça da República aconteceram aulas abertas e debates de sindicatos, movimentos estudantis, partidos políticos”, descreveu a educadora, comentando também sobre o trabalho que vem sendo realizado pela FASE com juventudes urbanas de Belém, e também no Recife e Rio de Janeiro. “É preciso, de fato, incorporar nessa juventude pautas que sempre foram trabalhadas pelos movimentos sociais e políticos. Afinal, essa agenda não é novidade. O que surgiu de novo foi essa forma de fazer política. E devemos debater e refletir sobre isso”, afirmou.
Sobre as manifestações no contexto amazônico ela falou que “os movimentos em Belém são muito heterogêneos. Em consequência, inúmeras pautas foram levantadas durante as manifestações”, como nos protestos das demais capitais brasileiras. Mas alguns temas que dizem muito ao contexto amazônico tiveram grande expessão nas ruas e no debate promovido na FASE. Entre eles, a luta pela vida do Rio Xingu, contra a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. “Os jovens reconhecem que esse não é um assunto apenas de quem está em Altamira, mas sim de todos e, por isso, mereceu destaque”.
OUTROS TEMAS
O direito de ir e vir e o acesso à cidade, remetendo a discussão sobre transportes de públicos e dotrânsito urbano também teve espaço. Assim como em outras capitais, projetos de BRT começaram a ser implatados há mais de um ano e ainda há vias interditadas, agravando problemas que já existiam como engarrafamentos e alagamentos, como nos conta a educadora. “Agora, o prefeito já anunciou a retomada das obras em resposta às manifestações”, explicou Aldebaran, lembrando que a resposta do poder público demonstra a importância dos movimentos e das lutas.
Os direitos sexuais e reprodutivos, o Estatuto do Nascituro, o projeto da “Cura Gay”, além do direito a um Estado laico estavam na pauta dos jovens no Papo e nas ruas. Outros temas de interesse foram a reforma política, a possibilidade de um plebiscito e os instrumentos de controle da população sobre as decisões e políticas públicas. E os jovens paraenses também falaram sobre como fazer uma leitura crítica da cobertura da mídia: refletiram sobre os interesses por trás das notícias produzidas nas grandes empresas jornalísticas que querem parecer isentas e trocaram ideias sobre como ler nas “entrelinhas” do que dizem as manchetes.