18/05/2016 18:00
Com apoio do programa da FASE na Bahia, agricultores familiares do Baixo Sul e do Vale do Jiquiriçá estão organizando a Cooperativa dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, Economia Solidária e Sustentável dos Municípios de Mutuípe e Vale do Jiquiriçá (Coopeípe), como parte das ações desenvolvidas com apoio da União Europeia¹.
A partir da iniciativa de um grupo de agricultores de Mutuípe, com forte participação de mulheres, os cooperados perceberam a necessidade de qualificar a organização para disputar políticas públicas e buscar a formalização, ampliando a possibilidade de acessar mercados institucionais e viabilizar mais condições para consolidar uma autonomia econômica. Nesta trajetória, as agricultoras perceberam a importância da união e da organização. “Nenhuma agricultora sozinha tinha recurso suficiente para adquirir equipamentos ou construir unidades de beneficiamento². A produção de frutas e de mandioca, por exemplo, era insuficiente para justificar a agregação de valor. Mas elas conseguiram realizar ações como a fabricação de polpas, temperos e de diversos derivados de mandioca, como biscoitos, bolos, sequilhos e farinha”, explica Paulo Demeter, coordenador do Programa da FASE na Bahia.
Para a presidenta da Coopeípe, Joelia Alves dos Santos Andrade, a organização dessa cooperativa é importante para que os agricultores possam vender a produção sem depender dos chamados “atravessadores”. “Os agricultores perceberam que estavam perdendo dinheiro [com os intermediários]. Nosso dinheiro ia todo para os atravessadores. Agora conseguimos ter mais rendimento e vender os produtos com preço justo. Não podemos e nem vamos trabalhar para pagar para alguém comprar”, esclarece Joelia.
Orgulhosa por ser agricultora, ela explica que a qualidade de vida na roça é um dos grandes benefícios da cooperativa para os agricultores. “Os alimentos serão vendidos com valor menor e em maior quantidade, por exemplo. Além disso, os agricultores terão acesso aos insumos agrícolas mais baratos”, exemplifica.
Estimuladas com a adesão de outras famílias agricultoras, os cooperados conseguiram encaminhar ações coletivas. “Já consolidadas como grupo, passaram por um primeiro processo de formalização participando ativamente da associação comunitária local. Avaliaram os avanços e dificuldades, analisaram opções e decidiram pela criação de uma cooperativa ao perceberem que a associação comunitária, enquanto modalidade de formalização jurídica, era insuficiente e não seria capaz de fazer frente às crescentes exigências legais, tributárias, financeiras, mercadológicas e sanitárias que regulam a inserção econômica da agricultura familiar na sociedade brasileira”, afirma Demeter.
A equipe da FASE na Bahia realizou reuniões em diversas comunidades para debater junto a outras famílias agricultoras sobre cooperativismo, falando sobre direitos e deveres dos envolvidos nessa atividade coletiva. Esse processo de mobilização contou com a presença de mulheres e jovens acompanhados por educadores da FASE. “Assim, nós construímos conhecimentos sobre o significado e a potencialidade da cooperativa, não só como ferramenta de acesso a novos mercados, mas também como instrumento de ampliação da participação popular nas disputas em torno de políticas públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Aos poucos, a proposta de criação da cooperativa foi sendo incorporada por associações comunitárias e pelas famílias agricultoras de outros municípios”, explica a educadora da FASE na Bahia Maria Helena da Silva Machado.
Afagos da Terra
“Todo este esforço da FASE e de seus parceiros, como instituições sindicais e lideranças da Coopeípe, permitiu que chegássemos, já nos primeiros três meses de 2016, com conquistas expressivas. Realizamos atividades de qualificação de empreendimentos por meio de consultoria com o Sebrae (PAS – Programa Alimento Seguro) e encaminhamentos relacionados à elaboração da “Afagos da Terra”, criação do código de barras e do rótulo de 57 produtos a serem comercializados pela Coopeípe”, comemora Demeter.
Neste processo, foram construídas parcerias com a Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol), envolvendo cerca de 20 empreendimentos da agricultura familiar nas comunidades onde a FASE atua na Bahia. Também foram realizadas ações incluídas no Projeto “Plano de Rede Solidária” para ampliar a representatividade da Coopeípe na região.
Participam da Coopeípe cerca de 42 pessoas entre agricultores e associações cooperadas que, indiretamente, compõe uma rede maior. Joelia afirma que o objetivo é expandir tanto a ação da cooperativa em outras regiões quanto a quantidade e a diversidade de produtos, fortalecendo assim a agricultura familiar. “Queremos ampliar a cooperativa para a região do Baixo Sul, por exemplo. Acredito que só assim seremos mais fortes”, conclui Joelia, que também é coordenadora dos grupo de mulheres do Vale.
Demeter ressalta que á realização de oficinas e cursos em diversas comunidades foi central para se decidir sobre os princípios e características da Coopeípe, mas também para continuar animando esse processo e, ainda, apontar quais são as providências necessárias para que os produtos nestas comunidades possam vir a ser comercializados. “Gestões e encaminhamentos foram adotados para a obtenção do Selo da Agricultura Familiar, sendo que a Coopeípe e seus cooperados já receberam aprovação para a apresentação dos produtos após exame feito pela Superintendência da Agricultura Familiar do Governo da Bahia (SUAF). Também temos que comemorar a participação da Coopeípe na Chamada Pública realizada no município de Presidente Tancredo Neves (BA) para a venda no PNAE”, expôs.
[1] O conteúdo deste artigo é de responsabilidade exclusiva da FASE, não podendo, em caso algum, considerar que reflita a posição da União Europeia.
[2] Local onde se transforma matéria prima em produtos mais elaborados.