14/09/2006 10:39
A Aracruz Celulose está jogando pesado contra as comunidades indígenas do Espírito Santo como resposta à ação iniciada semana passada, de cortes de eucalipto na área em processo de demarcação como reserva indígena.
As comunidades estão desde quarta-feira passada (6/9) cortando eucaliptos como forma de pressionar a Funai e o Ministério da Justiça (MJ) a serem mais ágeis na análise e tramitação do processo de demarcação de 11.009 hectares de terra, hoje ocupados com a monocultura do eucalipto.
O processo estava na Funai e deveria ter sido encaminhado ao MJ no dia 20 de agosto, mas só seguiu na noite da última segunda (11), com três semanas de atraso. O parecer da Funai comprova, mais uma vez, que as áreas do município de Aracruz são território dos povos Tupinikim e Guarani e devem ser demarcadas. Os documentos se referem às áreas de Comboios, Caeiras Velha e Pau Brasil.
O Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos tem agora 30 dias, a contar do dia 11, para assinar a portaria que declara os 11.009 ha como área indígena ou então retornar o processo à Funai pedindo mais informações, o que certamente interessa à Aracruz Celulose.
PRESSÃO
Irritada com a pressão das comunidades indígenas e insatisfeita com o parecer da Funai, a Aracruz Celulose está persuadindo a população do município contra a luta pela terra e contra as famílias indígenas. Desde hoje cedo vários carros de som estão circulando no centro de Aracruz informando que trabalhadores que prestam serviço para a empresa vão fazer uma manifestação na tarde de amanhã, no centro de Aracruz, contra a ação dos índios, “que há muito tempo estão radicalizando contra a empresa com apoio de entidades estranhas e prejudicando os trabalhadores”.
Além disso, a empresa está agendando visitas nas escolas da rede municipal para dar sua versão no processo de demarcação e dizer que os povos Tupinikim não são originários do município, discurso este que nega a história e a milenar ocupação do continente pelos índios.
Hoje, os jornais de maior veiculação do Espírito Santo trazem notas de repúdio assinadas por empresas e movimentos empresariais criticando a ação dos índios, dizendo que os mesmos estão coagindo funcionários e desrespeitando a ordem pública.
A grande imprensa do estado, aliás, destina muito mais espaço de mídia espontânea para a empresa do que para as comunidades. Em matéria publicada ontem em A Gazeta, o repórter usou um parágrafo para dizer que a Funai atesta que as terras são indígenas e seis parágrafos, mais uma submatéria, para a empresa dar sua versão, afirmando que tribos não habitavam a região quando se instalou ali, no final de década de 60.
O grupo proprietário do jornal, que possui ainda concessão de TV e rádios, também abriu espaço para o diretor da Aracruz Carlos Aguiar conceder uma entrevista ontem no Bom Dia Espírito Santo. Entretanto, a emissora nunca convidou nenhuma das lideranças indígenas a conceder entrevista ao vivo no espaço.