15/09/2006 10:55
Fausto Oliveira
A Baixada Fluminense continua entregue à violência indiscriminada. Na quinta-feira desta semana, dia 14 de setembro, o jovem Ítalo Lopes dos Passos, com quem a FASE trabalhava em uma série de iniciativas culturais no município de Mesquita, foi morto por dois policiais à paisana. Motivo? Nenhum. Ítalo não estava praticando crime algum, nem sequer envolvido em qualquer ato ilícito. Ele voltava de uma festa com um amigo, que também foi baleado mas não morreu. Várias pessoas testemunharam o assassinato. Os dois homens, que estavam à paisana e em carro comum, foram identificados como policiais depois de serem presos.
Era por volta de 22 horas do dia 14 quando Ítalo voltava de uma festa com um amigo. Foram parados por um carro, do qual saíram dois homens. Estes homens pediram que todos em volta se afastassem. Então, atiraram em Ítalo e em seu amigo. Minutos mais tarde, os assassinos foram pegos por uma patrula da Polícia Militar em serviço, porque estavam dando tiros para o alto. Presos por dar tiros ao alto, foram levado à delegacia. Mas já havia uma denúncia de que dois homens, num carro com a placa idêntica ao carro dos atiradores, haviam cometido os homicídios.
Dois vereadores de Mesquita, que conheciam Ítalo de sua militância política pelos direitos da juventude da Baixada, foram à delegacia para impedir que o espírito corporativo das polícias acabasse resultando na liberação dos criminosos. Eles ainda estão presos. Mas entidades que conheciam e trabalhavam com Ítalo nas várias iniciativas em que ele se inseriu exigem processo e punição para os assassinos.
Ítalo era engajado. Com menos de 30 anos de vida, ele adotou a cultura Hip Hop como referência de sua vida. Ele fazia parte de um grupo que vem crescendo e se afirmando, o Setor BF. Participava ativamente das sessões do Café Filosófico, evento periódico organizado pela FASE com a juventude da Baixada Fluminense. Ajudava a produzir um programa numa rádio comunitária de sua região. Foi, como convidado da FASE, ao Fórum Social Brasileiro, em abril deste ano, em Recife. E, sempre pensando em crescer como sujeito político e cultural, Ítalo começou a fazer um curso de cinema e vídeo na Central Única das Favelas, a Cufa.
“Atualmente ele estava muito feliz por participar do curso da Cufa de cinema, estava muito entusiasmado. No último dia que estive com ele, na véspera da sua morte, ele me contou que estava pensando num vídeo cujo título é O Fim do Mundo. Seria uma forma de abordar o mundo em que vivemos, cmo as violações dos direitos humanos e as violências”, diz Aércio Oliveira, educador da FASE que conviveu com Ítalo principalmente nas sessões do Café Filosófico.
Das autoridades, exige-se a punição exemplar dos dois assassinos, que já são conhecidos e já estão presos. A governadora do Rio de Janeiro, os secretários de Direitos Humanos e de Segurança Pública, o Ministério Público e a Justiça não podem fazer vista grossa a mais este caso de violência gratuita e absurda.
À sociedade, o Fase Notícias quer colocar uma questão. A vida de Ítalo era plena de sentido e significados. Engajado politicamente e produtor de cultura fiel às tradições que lhe formaram, ele poderia dar uma contribuição consistente, vinha crescendo a ponto de se tornar uma referência humana num espaço social carente de referências. Mas a ignorância nos levou Ítalo, como levou 29 outros jovens na chacina da Baixada Fluminense em março de 2005. Como também nos leva jovens produtivos e inteligentes que são mortos nas favelas em operações policiais que matam inocentes sem querer saber quem são. Nós todos, como sociedade brasileira, somos responsáveis. É isso o que queremos? É isso o que vamos continuar aceitando?