03/11/2015 13:25

Evento foi realizado pela AABA. (Foto: Silvanei Barbosa)

Evento foi realizado pela AABA. (Foto: Silvanei Barbosa)

A II Caravana Agroecológica e Cultural da Bahia apresentou a agroecologia como um contraponto ao agronegócio, modelo de agricultura centrado na monocultura e no uso abusivo de agrotóxicos¹. Cerca de 200 pessoas participaram o evento organizado pela Articulação de Agroecologia da Bahia (AABA), que envolve organizações, redes e movimentos sociais que constroem e fortalecem o campo agroecológico no estado. A Caravana reuniu agricultores familiares, educadores populares, sindicalistas, integrantes de cooperativas e associações comunitárias, além de lideranças de grupos de mulheres, estudantes e profissionais do setor público. O que uniu o grupo foi o compromisso com a promoção da agroecologia e o desejo de compartilhar saberes.

As atividades ocorreram entre os dias 20 e 22 de outubro no Baixo Sul e no Vale do Jiquiriça. Grupos partiram de Valença para municípios vizinhos em quatro distintas rotas da Caravana: Capivara e Lobo Guará; Mandioca; Onça da Piaçava; e Ipê Rosa. Em cada uma, os participantes ouviram explicações de agricultores e agricultoras protagonistas das experiências de cultivos de alimentos saudáveis. O encerramento do evento ficou por conta de um ato público que serviu para dar visibilidade à agroecologia. Durante a caminhada, os integrantes da Caravana reivindicaram que se pare imediatamente o envenenamento das pessoas e dos bens naturais por meio do uso de agrotóxicos. Houve também um canto em homenagem à ‘Mãe Terra’. Por diversas vezes, os manifestantes receberam aplausos da população.

FASE Bahia organizou a rota Ipê Rosa

FASE Bahia integrou a equipe de organização da Caravana. (Foto: Silvanei Barbosa)

FASE Bahia integrou a equipe de organização da Caravana. (Foto: Silvanei Barbosa)

O programa da FASE na Bahia organizou a rota Ipê Rosa, que percorreu experiências em três municípios. Em Laje, os participantes puderam socializar conhecimentos sobre a inclusão social e produtiva de jovens na Comunidade do Km 17. Na propriedade do jovem Orlando Sampaio, foi possível observar os passos dados na diversificação da produção e na preservação ambiental. Ele, que não tinha renda fixa, hoje comercializa polpas e hortaliças. “Consumimos parte do que agora se produz em maior quantidade”, completa. Trata-se de um exemplo de construção de condições necessárias para a permanência do jovem na comunidade com qualidade de vida melhorada. Orlando também trocou ideias sobre práticas agroecológicas, como compostagem e a elaboração e aplicação de fertilizantes e repelentes naturais.

A rota também debateu os direitos das mulheres, o acesso a políticas públicas, como ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e a organização em associações, tendo como exemplo a Comunidade do Calumbi, em Presidente Tancredo Neves. Lá os integrantes da Caravana conheceram as dinâmicas de organização de um grupo de mulheres e a experiência de construção de um Fundo Rotativo Solidário. Também conheceram práticas para a produção de mudas de árvores frutíferas e a criação de aves.

Visita às plantações de cacau. (Foto: Silvanei Barbosa)

Visita às plantações de cacau. (Foto: Silvanei Barbosa)

Já nas terras de Antônio Joaquim dos Santos, mais conhecido como Antônio da Gata, e de Antônia Nascimento, foram visitadas áreas de plantio de cacau, com  integração com o criatório de alevinos. O casal, ao lado do filho Vagner dos Santos, valoriza a oportunidade de se fazer intercâmbios de conhecimentos, como a que promoveu a Caravana. Antônio contou que não produzia de forma agroecológica, mas a partir do momento que visitou uma comunidade com esses princípios, há seis anos, voltou para casa querendo fazer diferente. Rosélia Batista, educadora da FASE na Bahia, destaca que histórias como essa demonstram que “é possível sim viver de forma agroecológica”. “A agroecologia é um estilo de vida, é um bem comum para a sociedade. É uma forma de viver que não pensa só no ‘eu’, mas no ‘coletivo’”, comenta.

As experiências visitadas na rota Ipê Rosa estão entre as que o programa da FASE na Bahia vem construindo junto às famílias agricultoras, inseridas no contexto de construção da soberania alimentar. Em sua intervenção educativa, que conta com o apoio da União Europeia², o regional vem assessorando tecnicamente os agricultores e agricultoras, promovendo eventos de formação sobre políticas públicas; alternativas de comercialização; plantios e criações; e intercâmbios sobre agroindustrialização.

Mineração versus agroecologia

capa cartilha agroecologiaOs conteúdos da Caravana foram construídos com base nas demandas identificadas na região. Nesse contexto, entre os temas centrais esteve a ameaça levada por empreendimentos de extração mineral, principalmente de exploração da bauxita. Houve relatos de que pelo menos quatro municípios do Baixo Sul e do Vale do Jiquiriça estão sendo percorridos por funcionários de mineradoras para a chamada prospecção. Porém, eles não costumam explicar às comunidades os motivos da realização desse tipo de pesquisa. “Existe muita desinformação. Mas o agricultor familiar, o quilombola, o indígena, ele precisa saber o que poderá ocorrer. Não existem processos de extração de minério sem degradações ambientais, sociais e culturais”, afirma Rosélia.

Diante da situação, Maiana Maia, do Grupo Nacional de Assessoria (GNA) na FASE, compartilhou na Caravana conhecimentos construídos a partir do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração e da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA). Maiana destaca que a Caravana mostrou a “riqueza da agroecologia”, que hoje já faz um contraponto a atividades econômicas que violam o direito à terra e à água, como é o caso da mineração. “Foi muito intensa a experiência de conhecer a história de vida de pessoas que estão lutando para sobreviver no campo com dignidade e alimentando as pessoas na cidade”, disse.

Encontro durante rota Ipê Rosa. (Foto: Silvanei Barbosa)

Encontro durante rota Ipê Rosa. (Foto: Silvanei Barbosa)

A II Caravana Agroecológica e Cultural da Bahia é uma continuidade de uma iniciativa que começou no ano passado e teve sua metodologia registrada em cartilha. A AABA, da qual o programa da FASE na Bahia faz parte, prioriza o diálogo e o intercâmbio de experiências que estão elaborando e experimentando alternativas de produção de alimentos, comercialização, organização comunitária e gestão de recursos naturais, identificados com práticas e princípios agroecológicos.

[1] Com informações da Rádio Web Cidadania e da AABA.

União Europeia_editada[2] O conteúdo deste artigo é de responsabilidade exclusiva da FASE, não podendo, em caso algum, considerar que reflita a posição da União Europeia.