12/01/2018 14:19

O Encontro Nacional de Comunicadores e Comunicadoras da Sociedade Civil pela Defesa de Direitos¹, realizado no mês de setembro de 2017, em São Paulo, deu vida à Cardume – Comunicação em Defesa de Direitos, uma rede de organizações da sociedade civil (OSCs) articulada a partir de seus comunicadores e comunicadoras que pretende potencializar o alcance da comunicação das OSCs no espaço público e digital em um momento de retrocesso nas pautas dos direitos humanos e diante de uma realidade de concentração midiática nas mãos de poucas empresas.

Durante cinco dias, os  participantes trocaram experiências sobre comunicação estratégica para defesa de direitos, dividiram suas dúvidas sobre engajamento no ambiente digital e estabeleceram linhas temáticas e uma agenda comum de atuação da Cardume. Um dos elementos centrais desta agenda consiste na replicação da atividade pelos comunicadores e comunicadoras em suas localidades para o debate sobre direito à comunicação e ampliação da Cardume com a integração de outras organizações deste campo político.

Atividade no Recife. (Foto: Abong)

Bruna Suianne, do núcleo de comunicação da Casa da Mulher do Nordeste, aprendeu novas estratégias para amplificar as vozes das organizações para a sociedade como um todo e expandiu esse saber em uma oficina de comunicação realizada em Recife, no dia 21 de novembro, em parceria com o Centro de Cultura Luiz Freire. A iniciativa visou potencializar as ações políticas em defesa do direito à comunicação nas organizações da sociedade civil e em movimentos sociais, bem como estimular práticas de comunicação como parte da estratégia das organizações para contribuir com o desenvolvimento institucional do campo. “Iniciamos a oficina com um breve resumo sobre o lugar que a comunicação ocupa na instituição. Depois disso, debatemos sobre a comunicação que temos e a comunicação que queremos“, conta Bruna. Em grupos, os participantes discutiram sobre três questões: Como fortalecer as pautas populares? Por que garantir o Direito à Comunicação? E como potencializar a comunicação das OSCs para promover mudanças sociais?

No dia 28 de outubro, aconteceu em Palmas, no Tocantins, a atividade realizada pelo Centro de Direitos Humanos de Palmas (CDHP) com a participação de 12 entidades de oito municípios do estado. O tema girou em torno da promoção e respeito aos direitos humanos nos meios de comunicação, a proliferação de novas tecnologias e os desafios da comunicação na luta por um Estado democrático de direitos. De acordo com a coordenadora do CDHP, Maria Vanir, os participantes compartilharam a dificuldade de acompanhar os avanços nas redes sociais e, a partir do evento, se convenceram da importância de priorizar a comunicação nos seus planejamentos e de criar páginas virtuais para suas entidades. O evento permitiu ainda a constituição de um núcleo estadual da Cardume no Tocantins, que será lançado em fevereiro.

“A Cardume favorece e facilita que a comunicação feita pelas organizações chegue nacionalmente e que consiga ter outras ferramentas e um potente braço para a luta por direitos humanos no Brasil inteiro”, afirma o coordenador de comunicação da CIPÓ – Comunicação Interativa Nilton Lopes. A atividade realizada pela organização dele aconteceu no dia 28 de novembro, em Salvador, Bahia. A CIPÓ e a Coordenadoria Ecumênica de Serviço, em conjunto com o Coletivo Baiano pelo Direito à Comunicação e outras organizações da sociedade civil, gravaram uma conversa aberta sobre o direito à comunicação e representatividade nos estúdios da TV Educativa na Bahia, do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia. O programa foi ao ar na noite do dia 12 de novembro. “Foi um marco na televisão da Bahia porque, pela primeira vez, as organizações ocuparam o espaço da grade da televisão para fazer um programa 100% independente”, conta.

Atividade em Brasília. (Foto: Abong)

A defesa de direitos sexuais e reprodutivos foi o tema da atividade realizada em São Paulo, no dia 9 de dezembro, por Viração Educomunicação e Católicas Pelo Direito de Decidir, em mais uma edição do Café com Luta com o tema “Direitos, Comunicação e Injustiças de Gênero”. O evento teve a presença de Paula Bonfatti, coordenadora de comunicação da Viração, e Iran Giusti, fundador da Casa 1, centro de acolhida de jovens LGBT expulsos de casa. Foi abordado o papel da comunicação no enfrentamento das desigualdades e como a comunicação pode ser uma aliada na construção de redes de resistência. Paula, que também compõe o núcleo embrião da Cardume, analisa que os movimentos feministas e LGBTs enfrentam desafios, como “disputar sentido com a grande mídia, que reproduz estereótipos e padrões de comportamento e reforça discursos machistas e LGBTfóbicos, além de sensacionalizar os casos de feminicídio no país”. “É também a partir do fortalecimento da comunicação da sociedade civil organizada que a luta por uma sociedade justa e democrática se torna possível”, completa.

Em Brasília, no dia 2 de dezembro, foi a vez de Cfemea e do Inesc realizarem uma atividade sobre Reforma Política e Direitos Sexuais e Reprodutivos no âmbito das eleições de 2018. Compareceram cerca de 25 pessoas de diversos coletivos locais. Para Bruna, a presença da comunicação em rede é uma esperança. “A Cardume chega para nos dar força e visibilidade diante da sociedade em geral, auxiliando na nossa sustentabilidade, resistência democrática e no nosso ativismo”, explica.

As próximas atividades previstas acontecerão nesse início de 2018 no Acre, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte do projeto Sociedade Civil Construindo a Resistência Democrática, uma parceria da Abong com suas associadas Camp, Cese e Cfemea, e apoiada pela União Europeia.

[1] Matéria publicada originalmente no site do Observatório da Sociedade Civil. A FASE é associada à Abong e integra a iniciativa.