13/11/2020 10:59
Caroline Rodrigues¹
Em outubro, a equipe do programa da FASE no Rio de Janeiro e do Fundo SAAP, com apoio da Fundação Laudes, realizou a primeira etapa do ciclo de oficinas “Além das opressões urbanas: raça, classe e gênero como referências para práticas e imaginários de cidade”. Os encontros virtuais também contaram com importantes contribuições de Tatiana Dahmer, presidente da FASE e professora da Faculdade de Serviço Social da UFF, e de Ariana Santos, assistente social e doutoranda do Serviço Social da UFRJ.
A iniciativa de formação, mobilizou sujeitos políticos de diferentes localidades, a maior parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, mas também de outros estados como Pará, Pernambuco e Rio Grande do Sul. A já conhecida diversidade das formas de organização e o pluralismo político que caracterizam o tecido associativo contemporâneo ficaram evidente nos debates. Houve troca de saberes e escuta coletiva entre representantes de coletivos, grupos, movimentos sociais, igrejas, ongs, universidades, associações, institutos e partidos.
Para animar o debate o coordenador da FASE no RJ, Aercio de Oliveira, lembrou que desde a idade média, momento em que a sociedade europeia se organizava em feudos, já existia a ideia que “o ar da cidade tornaria o povo livre”. Trazendo essa ideia para o mundo contemporâneo, buscou provocar o debate questionando “qual o sentido dessa liberdade numa cidade metropolitana, produzida pela lógica capitalista de apropriação do espaço, onde as trocas comerciais já não dependem do espaço físico para serem realizadas?”.
Buscando desnaturalizar as desigualdades sociais que estruturam as cidades e constroem um ideal de cidadania calcado no homem, branco, heterossexual, cristão e que têm posses, Tatiana Dahmer refletiu sobre como a mercadorização das cidades atinge de forma desigual as mulheres, em especial as negras. “Para essas sujeitas de direitos, o acesso a cidadania nunca foi trilhado pelos mesmos caminhos dos homens”, afirmou.
Interseccionalidade
Tatiana defendeu ainda a importância de destruirmos os consensos construídos por silenciamentos, que historicamente legitimaram a imagem da cidade de todos à custa da violação de direitos de muitos. Nesse sentido, destacou a importância de usarmos a interseccionalidade como chave política para o fortalecimento de processos de resistência social urbana.
Rachel Barros, educadora da FASE no RJ, defendeu que a interseccionalidade não é um somatório de dimensões, é a encruzilhada das diferenças. Partindo da ideia de interseccionalidade como prática política e não como um conceito teórico, Rachel lembrou de mulheres negras como Sojourner Truth, Lelia Gonzalez, Luiza Bairros e muitas outras ativistas que nos ajudam a entender a produção das opressões urbanas como parte da estrutura social.
Analisando as desigualdades urbanas a partir de uma perspectiva de gênero, Ariana Santos lembrou que o gênero é uma categoria analítica que não tem significado de mulher. “O gênero organiza as relações sociais entre homens e homens, mulheres e mulheres e homens e mulheres”. Assim, propôs que homens também se mobilizem no enfrentamento das violências de gênero materializadas nas cidades.
A segunda etapa de oficinas será realizada, ainda de forma virtual, em janeiro de 2021.
[1] Educadora do programa da FASE no Rio de Janeiro.